25/11/2007


A organização deste livro surgiu a partir do 1 CURA, o Primeiro Congresso sobre o Uso Ritual da Ayahuasca, realizado nos dias 4 e 5 de novembro de 1997 no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. O evento foi idealizado e organizado por Beatriz Caiuby Labate, foi patrocinado pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social e contou com o apoio do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da mesma universidade.
Ayahuasca é uma palavra de origem quíchua e significa liana dos espíritos ou ainda cipó da alma, dos mortos (Luna 1986). O termo é um dos mais utilizados para designar uma bebida psicoativa preparada geralmente com duas plantas (pode haver algumas variações): a liana ou cipó propriamente dito, cujo nome científico é Banisteriopsis caapi, e as folhas do arbusto Psicotria viridis. O objetivo do Congresso era estudar os usos rituais da ayahuasca em diferentes contextos que vão de cerimonias de indígenas sul-americanos a cultos urbanos. Esses usos rituais difundiram-se enormemente nos últimos anos, na América do Sul e em outros continentes, e têm sido pesquisados por um número crescente de estudiosos. O congresso tinha a finalidade básica de aproximar esses pesquisadores da ayahuasca, divulgar o estado da pesquisa sobre o assunto, e contribuir para o melhor conhecimento da ayahuasca e de seus usos rituais.
Durante dois dias, os pesquisadores reunidos debateram em mesas e palestras os aspectos históricos e antropológicos do uso ritual da ayahuasca, como o ritual, a cosmologia e o sincretismo, e trataram de seus aspectos psiquiátricos, psicológicos e legais. Entre os participantes havia antropólogos, historiadores, médicos, psicólogos, psiquiatras e representantes de diversos grupos ayahuasqueiros, além de um representante do Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), oriundos de diferentes regiões do país e do exterior, O intuito era, justamente, colocar em contato estudiosos das mais diversas áreas, permitindo uma abordagem de fato interdisciplinar e que fosse capaz de dar conta das múltiplas dimensões envolvidas no uso ritual de psicoativos por grupos humanos.
O livro nasceu do projeto de reunir as conferências apresentadas no encontro. Entretanto, acabou ganhando conteúdo e volume mais amplo, já que mais da metade dos capítulos agora publicados foram escritos por pesquisadores que não participaram do evento.
A presente publicação, dando continuidade à tarefa iniciada no 1 CURA, visa antes de mais nada promover uma abordagem aprofundada de um assunto que é muitas vezes tratado pelos meios de comunicação com enfoques superficiais e simplificadores, que em nada contribuem para a compreensão de um fenômeno com a complexidade própria dos usos rituais da ayahuasca.
Um dos nossos objetivos é mostrar essa complexidade, com um panorama do “estado da arte” da pesquisa sobre o tema, dando ao leitor a oportunidade de tomar contato com o que tem sido produzido sobre temas que vão desde o uso da ayahuasca entre povos da floresta - populações indígenas, curandeiros e seringueiros até os usos da bebida por doutrinas religiosas urbanas como o Alto Santo, o LEFLURIS, a Barquinha e a União do Vegetal, incluindo também análises médicas, psiquiátricas e psicológicas que têm sido realizadas em torno do chá. Ao mesmo tempo, pretendemos incentivar o desenvolvimento deste campo de estudos emergente, chamando a atenção para a necessidade de mais pesquisas na área. Assim, esperamos que o livro seja capaz de seduzir cientistas de diversos campos para os problemas antropológicos, psicológicos e médicos envolvidos neste amplo domínio que estamos denominando como ‘uso ritual da ayahuasca’.
Por último, gostaríamos de frisar que esse é o primeiro esforço sistemático para reunir em uma coletânea no Brasil textos diversos e originais sobre o tema. Esperamos desta forma preencher uma lacuna neste cenário composto de um lado por grande diversidade empírica e de outro por pouca articulação e diálogo entre pesquisadores.
A primeira parte da obra, Ayahuasca entre os Povos da Floresta, é constituída por sete artigos que tratam de usos da bebida por indígenas da floresta amazônica (Pedro Luz, Jean Langdon e Barbara Keifenheim), curandeiros e xamãs no sopé andino (German Zuluaga, Jacques Mabit e Luis Eduardo Luna) e seringueiros do Acre (Mariana Pantoja Franco e Osmildo Silva da Conceição).

2 comentários :

Anônimo disse...

Beleza. Belo livro, belo blog.

CCM - Luz Divina Universal disse...

Obrigado pelo incentivo e continue acessando o blog para ver as novidades.

Luz no seu caminho!