25/11/2007



Esther Jean Langdon
O uso de Banisteriopsis faz parte, entre os grupos indígenas da região amazônica, de uma experiência cultural e subjetiva e para entender esta experiência, é necessário ir além da análise dos efeitos psicoquímicos desta substância psicointegradora. Para compreender o uso, os efeitos e as possibilidades da Banisteriopsis, é necessário um olhar transdiciplinar. Utilizo a palavra psicointegrador, de acordo com a acepção de Winkelman (1996, p. 11), para me referir a uma abordagem neurofenomenológica que integra neurofisiologia, psicobiologia, estudos de estados alterados de consciência, observações clínicas, estudos etnográficos e comparativos sobre o uso e os efeitos das substâncias trad icionalmente chamadas psicodéllcos ou alucinógenos. A antropologia faz uma contribuição através do seu enfoque cultural; este olhar, porém. não é por mera curiosidade de entender como os outros utilizam estas substâncias. Os grupos Indígenas amazônicos têm utilizado a Banisteríopsis milenarmente para vários fins, e o saber advindo desta experiência milenar não é de se ignorar.
Um dos assuntos poucos explorados na antropologia é como os próprios índios descrevem sua experiência com psicointegradores. Esta experiência é uma construção subjetiva e neurofisiológica mas ao mesmo tempo é permeada de orientações culturais de como percebê-la e interpretá-la. Dado o uso milenar da Banistertopsis, penso que a voz deles nas descrições da experiência é de suma importância para uma abordagem transdisciplinar. É necessário entender o uso e os efeitos de Banisteriopsis como uma experiência mediada pela cultura.
Assim, neste trabalho quero explorar uma narrativa contada por um índio Siona sobre uma experiência que aconteceu na sua aprendizagem como xamã. Apesar de apresentar só texto, este texto é representativo das narrativas em geral desta cultura sobre a “toma” de yagé - a palavra que eles usam para designar as várias misturas feitas de Banisteriops e seus aditivos preparadas para conhecer os lados invisíveis do mundo. Os Siona costumam freqüentemente contar sobre suas experiências com yagé, sobre o que eles viram, o que eles sentiram e o que eles aprenderam. Podemos dizer que estas narrativas fazem parte de uma tradição narrativa e poética (Langdon 1997). Falar sobre suas experiências lhes dá muito prazer e, para que possamos entender melhor a experiência, é necessário ouvi-los da perspectiva psicofenomenológica.
Tomas Banisteripsis ritualmente faz parte do que podemos chamas da recriação da cosmologia xamânica, que nao e limitada a esta substancia nem somente ao xamã, mas que representa um saber englobando toda uma cosmologla e práticas rituais compartilhada pelo grupo. Os Siona, do rio Putumayo no sul da Colômbia, fazem parte de Um complexo xamânico da bacia noroeste da Amazônia, no qual Banisteriopsis é a substância principal para as atividades xamãnicas. Várias pesquisas etnográficas excelentes já foram realizadas sobre os grupos desta região, que se tornou importante para a antropologia com o interesse renovado pelo xamanismo a partir da década de 1960. Assim, posso citar Michael Harner (1972) e seu trabalho sobre os Jívaro; Ken Kensinger (1973) e os Kaxinawá; Scott Robinson (1970) e os Kofán e Marlene Dobkin de Rios (1972) com os mestiços do Peru, entre outros. As pesquisas destes antropólogos foram pioneiras na exploração do papel de psicointegradores na história humana, e eu, como tantos outros, faço parte do processo de continuação deste interesse após os anos de 1970.

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