02/11/2007

Trecho do Capítulo V do livro Porque Sou Espírita, de Américo Domingos, com refutações as acusações do padre Estevão Bittencourt ao Espiritismo no livro "Por que não sou espírita?

O quarto argumento trata-se de “O Conceito de inferno...”. O padre diz o seguinte: “Muitas vezes a má compreensão do que seja o inferno leva a rejeitá-lo em favor do reencarnacionismo. Na verdade, o inferno não é um tanque de enxofre fumegante atiçado por diabos munidos de tridentes, mas é um estado de alma, no qual o indivíduo se projeta por dizer NÃO a Deus: após a morte, a pessoa que morre consciente e voluntariamente avessa a Deus, é respeitada em sua opção definitiva, mas não pode deixar de reconhecer que Deus é o Sumo Bem... e o Sumo Bem que continua a amá-la irreversivelmente. É o fato de que Deus ama uma vez por todas, mas foi conscientemente preterido em favor de bagatelas, que causa o tormento do réprobo. Se Deus desviasse do réprobo o seu amor, ele não sofreria o inferno; mas Deus não pode deixar de amar, porque Ele não se pode contradizer. É precisamente nisto que está o princípio do inferno. Vê-se assim que o inferno, longe de contradizer o amor de Deus, decorre, de certo modo, da grandeza divina desse amor”.

Se o Sumo Bem que é Deus ama irreversivelmente aos seus filhos, sabendo da ignorância de que se acham revestidos os que se encontram avessos a ELE, não pode de forma alguma respeitar a “opção definitiva da negação”, deixando a grande esmagadora maioria da Sua criação ser condenada por todo o sempre. Exatamente por não poder deixar de amar, Deus concede a todos a eternidade do perdão. O “tormento do réprobo” é a consciência do espírito remoendo no Plano Extrafísico, oprimindo-o, recriminando-o. Devido a aparência de prolongar-se indefinidamente, o sofrimento do autojulgamento é denominado de “fogo eterno”. Na realidade, é o “fogo do remorso”. O Mestre Jesus antecipadamente, pôs por terra esse conceito dogmático, com os seguintes ensinamentos, contidos nos versículos a seguir:

1) Certa feita, um discípulo de Jesus perguntou ao Mestre: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe o Cristo: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. (Mt. 18:21-22)

Incomensurável é o amor de Deus, perdoando sempre o filho infrator às suas leis;

2) “Qual dentre vós é o homem que se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou se lhe pedir peixe, lhe dará uma cobra? Ora se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus...” (Mt. 7:9-11)

Se um pai não castiga eternamente ao seu filho, como pode Deus punir um fruto da Sua criação por todo o sempre?

3) Em Mateus 5:25-26: “Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali enquanto não pagares o último centavo.”

O Mestre, peremptoriamente, arrasa com o conceito do inferno, dizendo que a prisão é transitória, a pena não é perpétua. Através do “nascer de novo”, as dívidas serão resgatadas, pagando-se o último ceitil. Daí o Cristo ter dito a Nicodemos que todos teriam que reencarnar: “Importa-vos nascer de novo” (João 3:7)

4) “Jesus visitou e pregou aos espíritos em prisão” (1 Pedro 3:19)

Este versículo liquida inteiramente com o chamado “Suplício Eterno”, porquanto o Mestre foi visitar aos que estavam em sofrimento desde o tempo de Noé (1 Pedro 3:20). O ato de visitar e pregar, explicitamente derruba a possibilidade de existência do inferno, porquanto o Cristo foi às regiões inferiores do Plano Espiritual para pregar, isto é, difundir uma doutrina, propagar idéias virtuosas, preconizar a melhoria espiritual de outrem. Certa feita, quando jovem, praticante do protestantismo, abordei o pastor da igreja que freqüentava, a respeito desse versículo. O reverendo teve a petulância de dizer-me que o Mestre foi ao inferno mostrar a Sua glória para os que lá estão definhando por todo o sempre. Com assaz infelicidade, o “pastor de almas” enquadrou Cristo como um vulgar sado-masoquista, felicitando-se com o sofrimento alheio. Anteriormente, no meu tempo de infância, professava o Catolicismo. Lembro-me que quando indaguei, do sacerdote que ministrava as aulas de Catecismo, o seguinte: – Padre, se eu for para o céu e minha genitora para o inferno, como me comportarei no paraíso, sabendo que minha mãe está sofrendo? O prelado foi muito infeliz e cruel na resposta, dizendo-me que os eleitos esquecem o que foram na Terra. De imediato, redargüi, afirmando-lhe não acreditar que Deus possa fazer uma lavagem cerebral nos que entram no Éden eterno.

Logo me afastei dessa religião, que prega existir nenhum sentimento de piedade e de caridade, subsistindo naqueles que se encontram na beatitude celestial. Inclusive a Summa Theologia de S. Tomás de Aquino; suplemento da parte III, quest. 95, arts 1, 2 e 3, edição de Lião, 1685, T-II, pag. 425, traz a seguinte aberração:

“Os eleitos, no céu, não conservam sentimento algum de amor e amizade pelos réprobos; não sentem por eles compaixão alguma e até gozam do suplício de seus amigos e parentes. Os eleitos o gozam no sentido de que se sentem isentos de torturas, e que, por outro lado, neles terá expirado toda compaixão, porque admirarão a justiça divina” (Retirado do livro Cristianismo e Espiritismo, pag. 247, 6.a edição, FEB).

5) No Antigo Testamento, no livro de Isaías, capítulo 57, versículo 16, está bem claro que não existe condenação eterna: “... não contenderei para sempre, nem me indignarei continuamente, porque, do contrário, o espírito definharia diante de mim e o fôlego da vida que eu criei”.

6) A seguinte passagem do Evangelho nos revela que o sofrimento, após a morte física, é padecido com diferenciação e tem finalidade corretiva: “Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade de seu Senhor e fez coisas dignas de reprovação, levará poucos açoites” (Lc. 12:47-48) O “inferno”, além de não ser eterno, não é o mesmo para todos os pecadores. O próprio Jesus esclarece esta questão, em continuação ao versículo 48: “Mas àquele a quem muito foi dado muito mais lhe pedirão”. Portanto, os espíritos, que reencarnam com conhecimentos espirituais, ou que os adquirem na presente existência, já não sendo mais “porcos para quem não devam ser lançadas pérolas, nem cães para os quais as coisas santas não devam ser dadas” (Mt. 7:6), têm grande responsabilidade e são mais culpados, diante do insucesso na existência física, levando ao “inferno do remorso” (muitos açoites), que os outros espíritos que falharam, sem o conhecimento prévio das coisas espirituais, com o remorso remoendo menos (poucos açoites), já que não tinham idéia precisa do mal em que incorreram. 'Na verdade, existem inúmeros estados de sofrimentos, como inúmeros são nossos erros, porém os erros de uma única existência, jamais poderiam justificar o sofrimento por toda a Eternidade. Se o ser está lesado em seu espírito, devido ao mau procedimento em vida passada, vivendo intenso sofrimento espiritual (fogo eterno), é necessário que reencarne, marcando no corpo físico a sua deficiência, tendo a oportunidade da cura total, através do seu procedimento diante do resgate, expurgando do corpo espiritual a chaga que o maltratava. No decurso de existências sucessivas, o espírito se vai aprimorando e tornando-se apto, através da evolução espiritual, de compreender e habitar o Universo. A Espiritualidade, por intermédio das Escrituras, nos revela a grandiosidade da lei da reencarnação, que permite o nosso aprimoramento, em época certa, quando já teremos “olhos para ver” e “ouvidos para ouvir”, (Mt 11:15). Tudo realmente tem uma causa e fomos criados para a ventura eterna. Com o pensamento voltado para o oceano de galáxias, revelando a grandiosidade da criação, ouvimos, no nosso íntimo, as palavras do representante maior da Divindade, em nosso planeta: “Na casa de meu Pai há muitas moradas...” (Jo. 14:2). O Universo espelha a eternidade de nossos espíritos e nos mostra que o seu Autor, sendo Onisciente e, produzindo uma obra tão gigantesca e maravilhosa, não erraria ao ponto de permitir o “inferno eterno” e deixar que o fruto de Sua Criação, “feito à sua imagem e semelhança” – (Gênesis 1:27), perecesse para todo o sempre. Sem reencarnação só restam o caos e a desesperança (retirado do capítulo “Inferno Eterno ou Reencarnação”, do livro A Queda dos Véus, publicado pelo Centro Espírita Léon Denis, do mesmo autor, Américo Domingos Nunes Filho).

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