24/12/2007

Antes de narrar o nascimento de Jesus, tal Como está registrado nos antigos documentos Rosacruzes, desejo chamar a atenção dos leitores para os seguintes pontos relevantes.

Na época do nascimento de Jesus, a Fraternidade Essênia fazia parte da Grande Fraternidade Branca e não só estava bem estabelecida em várias partes do Egito e da Palestina, tendo seu maior centro e número de membros em Alexandria, no Egito, com uma grande comunidade na Galiléia, como também mantinha um grande templo secreto em Heliópolis, no Egito, onde os Supremos Oficiais se reuniam e onde as cerimônias mais importantes da organização eram realizadas. Este templo foi muitas vezes citado nos registros antigos como o templo de Helios OU “templo do sol”. Na Palestina havia um templo menor para as cerimônias sagradas dos ESSêTÚ0S de Jerusalém e arredores, localizado perto de uma das portas da cidade. Era neste templo de Jerusalém que OS oficiais da Fraterflida Essênja se reuniam para suas cerimônh sagradas.

Talvez seja necessário exp1icar nesta jnjia, que em todos os templos antigos da Grande Fraternidade branca, inclusive os dos Essênios, as jovens filhas dos membros mais importantes da organização serviam como Virgens Vestais durante certos períodos de sua vida, ficando sob a guarda da organização.

Em todas as lojas Rosacruzes em todo o mundo, inclusive as da América do Norte, há Vestais servindo a cada Templo ou Loja, simbolizando a Consciência espiritual do Cósnuco Essas jovens são sempre filhas de pais que são Membros da organização há algum tempo. Elas são muito respejtas e ajudadas de muitas formas a alcançar grandes realizações quanto a todos os princípios éticos, culturais e educacionais da terra em que vivem.

Com estas informações em mente, posso agora apresentar a narrativa que provavelmente é a mais antiga e completa história da Divina Concepção e do Nascimento Divino do Mestre Jesus, tal como foi registrada e preservada nos arquivos da organização Rosacruz no Egito, na Índia e no Tibete. Foi necessário condensar um pouco a narrativa para adaptá-la à forma de livro, para que o mesmo não ficasse volumoso demais, mas nenhum detalhe essencial foi elimi nado nem foram alteradas as frases místicas importantes.

A história que se segue é comumente aceita pelos mÍStiCOS da Grande Fraternidade Branca, com perfeita compreensâo. Estou certo de que os místicos do mundo ocidental encOntrarão nesta história uma explicação perfeita do maior entre os mistérios místicos.

No tempo das seitas místicas e cultos sagrados da Grande Fratemi&1& Branca do Oriente, houve um certo Joaquim, alto sacerdote do Sagrado Templo de Helios, fora dos portões de Jerusalém. Era ele um devoto seguidor dos rituais sagrados e havia se comprometido a dar tudo que lhe pertencesse ao grande trabalho. Quando chegou a época de Ana, sua mulher, ter um filho, eles concordaram que, se fosse uma menina e demonstrasse já durante a infôncia que fora divinamente enviada, ela se tomaria uma pomba Sagrado. No nono mês Ana deu à luz uma criança, uma (Columba) no Templo Santo, como virgem do Sanctum menina tal como haviam predito os astrólogos (Magos) do Templo. Passado o tempo de praxe, Ana purificou-se e amamentou a criança, chamando-a Maria, porque o sol estava em Libra na hora do nascimento.

Quando a criança completou seis meses foi levada ao Templo por seus pais, para que pudesse ser examinada e a bagagem trazida da vida anterior revelada na presença dos Sacerdotes e Magos. A criança foi colocada no Sanctum apoiada nos próprios pés, com o rosto voltado para o leste, enquanto a mãe permanecia sentada sobre um pano branco, ao pé da Chama Vestal. Disseram à criancinha que andasse e ela andou. Os Sacerdotes e Magos notaram que a criança deu sete passos e depois ajoelhou-se diante de sua mãe no Sanctam. Enquanto os Magos entoavam um cântico, a mãe ergueu a filha para o céu e exclamou em voz alta: “Tão certo como o Senhor meu Deus existe, tu não caminharás sobre a terra até que eu te dedique ao Templo do Senhor!” Os sacerdotes regozijar pelo cumprimento da profecia segundo a qual o Sumo Sacerdote Joaquim daria uma virgem ao Templo.

A mãe cumpriu sua promessa. Ela fez construir um sanmário em sua casa e cobriu o chão com um pano do Templo de Helios para Maria andar sobre ele, para que seus pés não tocassem a terra até o dia de sua entrada no Templo. A mãe nAO pennitia que nada ilgar ou contaminado tocasse sua fiffia e chamava as Virgens puras do Templo para que conduzissem a menina pelo Santuário improvisado e a levassem no colo para passear no jardim das rosas quando o sol abrandava.

Chegou o primeiro aniversário da menina e aconteceu uma festividade sagrada na casa de Ana e Joaquim, com a presença de todos os Sacerdotes, Escribas e Magos dos Templos da Fraternidade. Joaquim tirou a pequena Maria do Santuário para mostrá-la aos Sacerdotes; ela foi aspergida com água pura e pétalas de rosas, e os Magos declararam que seu nome oficial era Mana, a Pomba de Helios. Os sacerdotes a abençoaram e oraram a Deus, dizendo: “Deus de Nosso Coração, abençoa esta criança e faz do seu nome, que os Magos acabaram de confirmar, um nome eternamente pronunciado por todas as gerações dos filhos de Deus!” Todos os presentes responderam: “Assim seja, assim seja, amém !“ Amãe de Maria levou- a de volta ao Santuário para amamentá-la e entoou um cântico a Deus, dizendo: “Canto um hino ati, santa criança, um hino a Deus, pois Ele me concedeu o fruto da honradez. Escutai, ó Escribas dos Doze Remos, pois a Pomba Sagrada está comigo e Deus mora conosco1” Quando as festividades terminaram todos partiram jubilosos, e cada um dos doze Escribas foi encarregado de levar as boas novas a seus Doze Templos dos Doze Remos. Os meses foram se passando e a menina completou dois anos, havendo nova festividade. Joaquim disse: “Levemos

Maria ao Templo, em cumprimentTto ao nOSSO voto, pois temo que Deus nos recuse o privilégio e nossa dádiva se torne inaceitável.” Ana então disse: “Não vês que Maria é prudente e forte para sua idade e abençoada com a compreensão não só desta vida mas também da outra que ela trouxe consigo ao nascer? Mais um ano e ela estará mais forte e suficiente ment preparada para ir ao Templo sozinha, sem seus pais, como ocorreu da primeira vez.” Joaquim concordou. Quando a menina fez três anos, era excepcionalmente vivaz e dotada de compreensão interior. Joaquim chamou os Escribas e Sacerdotes dos Doze Remos e convidou as virgens puras do Templo para que escoltassem Maria ao Templo. As Virgens chegaram com as lâmpadas sagradas acesas, felizes com a dádiva de Deus ao Templo. Mas Maria recusou ser escoltada e foi levada apenas por sua mãe ao portal do Templo, para que seus pés não tocassem opó. As Virgens se encontravam no Templo entoando cânticos e mcensando o Sanctum quando Maria foi recebida pelos Sacerdotes de Helios no portal exterior. A criança foi levada ao Templo e colocada no terceiro degrau diante do altar onde ardia a Chama Sagrada. O Sacerdote orou a Deus, dizendo: “Deus ampliou Seus propósitos e Seu nome em todas as gerações e através desta criança manifestará a redenção dos filhos desta terra.”

Então ele abençoou a menina, que dançou de alegria e caminhou do Altar para o Sanetum, ajoelhando-se diante do Shekinah. Quando os pais se dirigiram para a porta do Templo, voltaram-se para a filha, que lhes pediu para deixá-la ali. Enquanto as Virgens, os Sacerdotes, Escribas e Magos caminhavam para o Oeste do Templo, jogavam pétalas de rosas sobre a criança ajoelhada. Os pais se sentiam maravilhados pelo desejo da menina de permanecer a sós no grande Templo. Quando todos tinham partido e Maria ficou sozinha, viu seu próprio corpo infantil flutuando como uma Pomba no ar; do espaço acima do Shekinah surgiu uma mão angelical dando um bocado de alimento a Maria, enquanto ela flutuava, e uma voz angelical falou: “Vê, este será teu alimento daqui por diante, pois não mais acharás leite no peito de tua mãe, eis que sorveste o que Deus proveu e agora só comerás aquilo que te for servido pelos teus iguais”.

Quando Maria fez doze anos, deu sinais de fecundidade, o que anunciava a chegada do sinal e símbolo de que chegara o tempo de cumprir o voto de seus pais. Foi reunido o conselho dos Sacerdotes e Magos, que disseram: “Eis que Maria, a Pomba, completou doze anos e apresentou o sinal de que deve ser dada em casamento ou deve residir no Templo. Devemos tomá-la agora ou esperar que se passem mais onze meses conforme foi estipulado?” Os Magos responderam: “Ide ao Altar e perguntai a Deus o que é certo, e aquilo que Deus manifestar a vós, faremos.” Joaquim, na qualidade de Sumo Sacerdote, colocou sobre sua veste oficial o peitoral triangular, e orou pedindo iluminação. Uma forma apareceu diante dele e falou: “Joaquim, Joaquim, vai e convoca OS viúvos da Fraternidade que têm um lar, e faz com que cada um tome um bastão sagrado; Maria será entregue aos cuidados daquele a quem Deus mostrar um sinal”. Joaquim revelou o que lhe fora transmitido e os Escnbas foram informados de que deviam convocar os ViÚVOS de seus Remos.

Havia um, de nome José, da comunidade Essenla da Galiléia, membro devoto do Templo de seu Reino; quando soube que todos os viúvoS estavam sendo chamados a Helios, deixou de lado as ferramentas com as quais estava construindo uma casa e apressou-se a ir ao encontro dos demais. Quando todos os ViÚVOS estavam reunidos diante do Templo de Helios, o Sumo Sacerdote escolheu 144 um a cada viúvo. Mas nenhum sinal foi dado, pelo qual bastões sagrados, purificou-OS diante do Altar e entregou Joaquim pudesse saber qual seria o escolhido conforme prometera a voz. José foi o último a receber o bastão e, ao erguê-lo em saudação ao Sumo Sacerdote, eis que uma pomba branca saiu do bastão e voejou em tomo da cabeça de José. Então o Sumo Sacerdote disse a José: “Foste escolhido para receber a Virgem dedicada a Helios e guardá-la em tua casa”. Mas José recusou, dizendo que não sabia porque fora convocada aquela assembléia, que tinha dois filhos e estava velho, e que a Virgem parecia ser muito jovem e não ter completado os treze anos exigidos pela lei. O Sumo Sacerdote admoestou José, lembrando nderain lhe o que Deus fizera a Datã, Abirão e Korah, como a terra se abrira e os engolira, por causa de sua negativa. José ficou temeroso e concordou em levar a Virgem e manter em sua companhia a Pomba de Helios. Então disse a Maria: “Eis que te recebo do Templo de Deus e te deixarei em minha casa; voltarei para ti após terminar minha construção”. Foi assim que Maria passou a viver com José, viúvo e carpinteiro, como a Virgem da Fraternidade.

Veio então o dia em que o conselho de sacerdotes de Heijos foi convocado para planejar a feitura de novas cortinas para o Templo. Disseram OS Sacerdotes: “Chamemos as Virgens intocadas de nOSSOS Irmãos e também nossa Pomba do Templo. Quando o chamado foi feito, havia sete virgens, mais Maria, a Pomba do Templo.

Quando já estavam no interior do Templo, o Sumo Sacerdote ordenou que fosse feito um Sorteio para decidir quem iria fiar o ouro para as cortinas e quem devena fiar o verde, o escarlate, o púrpura, o azul e o fino linho e a seda delicada. A fiação do púrpura e do escarlate coube a Maria, a Pomba.

Ela pegou os materiais e foi para casa. Enquanto fiava, surgiu diante dela a figura de um grande Mestre que disse: “Não temas! Trago uma mensagem jubilosa, Maria, Virgem Santa e Pomba Sagrada de Helios, pois é chegado o dia de se cumprir a profecia dos Magos! Recebeste as bênçãos de Deus e de teus Irmãos e agora conceberás pela palavra de Deus”. Ao ouvir isto, Maria contestou, dizendo: “Conceberei pela palavra de Deus? E ainda assim tudo se passará em mim como nas demais mulheres?” A voz da figura respondeu: “Não conceberás como supões, mas gestarás da maneira como imaginas. Pois, assim como os lábios do homem podem te beijar, do mesmo modo como as mãos do Sumo Sacerdote te abençoaram, a semente do homem será tua herança; mas apalavra de Deus será soprada sobre ti e seu poder te tornará sagrada e tomará bendita a semente para que seja de Deus. Portanto, a Sagrada vida que nascerá de ti será chamada Filho de Deus, e receberá o nome de Jesus, pois será Deus no Homem e se tomará Deus entre os homens”. Então Maria respondeu: “Faça-se de acordo com apalavra de Deus!”

Maria teceu o púrpura e o escarlate e levou-os ao Sumo Sacerdote Ele falou com ela e disse-lhe que havia sido mformado de que chegara o dia da concepção; abençoou-a e rejubilou-se com ela, dizendo-lhe que seu nome seria sagrado para todas as gerações da Terra. Maria foi para a casa de sua prima Isabel e lá permaneceuJ até que sua ondiçã0 se tornou tão manifesta que a fez procurar de SOVO a intimidade de seu lar.

Maria estava no sexto mês quando José regressou da obra já termiiiada e percebeu que ela estava grávida, sentindo-se surpreso e conStemad0. GolpeOU o próprio rosto, atirou-se sobre o áspero tecido do santuário, chorando argaIfle1ite e dizendo: “Como enfrentarei Deus agora? Pois recebi unia Virgem, a Pomba de nosso Templo, e não a guardei devidamente e agora uni homem a maculou? Quem fez tal coisa em minha própria casa? Repete-se em mim a história de Adão?” José levantou-se, chamou Maria e lhe disse: “Por que tu, que subiste os sete degraus e foste elevada ao terceiro degrau do lugar mais santo do nosso Templo, permitiste que um homem te maculasse? Não recebeste alimento das mãos de um anjo como sinal de que não devias aceitar dos profanos aquilo que pudesse alimentar teus desejos terrenos?”

Maria chorou amargamente pela ignorância de José e por não confiar nela, e lamentou-se: “Sou pura e nenhum homem me tocou!” José encheu-se de espanto e rebateu as Palavras dela, dizendo: “Mas então por que estás assim?” E ela respondeu com doçura: “Assim como Deus vive, não Sei como isto aconteceu através da palavra! Enquanto eu dormia Ele veio a mim com pureza de espírito, livre de COii30 mortal, e por Seu alento, que não era o alento da luxúria mas o alento da Palavra de J)eus, concebi em realidade o que Deus antes concebera em pensamento; e assim Como o pensamento precedeu a criação do mundo, Comigo a mais sagrada das palavras precedeu a vida que se agita dentro de mim”.

José temia que os que desconheciam as leis de Deus interpretassem e julgassem mal, e sentia-se perplexo. Mas durante a noite veio-lhe a voz do Mestre, dizendo: “Não temas, pois aquele que Maria concebeu vem do Espírito Santo e ela dará à luz uni menino que as Hostes Celestiais chamarão Jesus, porque o Espírito Santo, através da palavra de Deus, estará nele”.

posteriormente, veio um Escriba à casa de José para saber a razão de sua ausência em uma reunião da Fraternidade, viu que Maria estava grávida e dirigiu-se imediatamente ao Sumo Sacerdote, pronto para atestar que Maria havia sido maculada. O Sumo Sacerdote chamou José e Maria, ouviu o que tinham a dizer, escutou compreensivamente a versão de Maria declarando inocência e depois argumentou com o Escriba. Os Magos se reuniram e decidiram que deveria ser feito o teste das auras, pelo qual as auras manifestariam a cor do pecado, se pecado houvesse. Ambos tomaram uma bebida tirada do recipiente que continha água radiante; foram colocados no escuro onde nada além da Luz pura se irradiou deles, não havendo manifestação de pecado. Disse o Sumo Sacerdote: “Se o Deus do nosso Templo não torna manifesto qualquer pecado através de Suas leis, então não posso julgarvos”. Dispensou-os, então, como puros de coração e limpos de pecado.

Chegou o tempo de José achar necessário viajar com Maria para evitar censuras por causa de sua situação e da estranha experiência de Maria. Eles chegaram a uma caverna onde ficaram descansando a pedido de Maria, que julgava estar próxima a hora do nascimento. José foi procurar ajuda e encontrou uma mulher que foi até a caverna, ouviu a estranha história de Maria não acreditando nela. Olhando em todas as direções José viu que OS CUS e a terra e até mesmo as pessoas de lugares cjjstantes estavam silenciosoS e imóveis, e Soube que a presença de Deus se fia sentir sobre a Terra e que algum milagre estava para acontecer. Enquanto ele e a mulher esperavam na caverna, uma grande Luz surgiu da escuridão e os evitou e foi pairar sobre Maria. A Luz tornou-se menor e mais densa em sua alvura, até que envolveu Maria e depois foi se extinguindo. Enquanto José e a mulher observavam em silêncio, a Luz desapareceu, ouviu- se a voz de um recém-nascido e um anjo apareceu dizendo: “Nesta hora, em humildade de espinto e pureza de mente, nasceu o Filho de Deus da Virgem do Templo, concebido pelo Espírito Santo através da palavra de Deus, e seu nome será Jesus pois este é o nome de Deus em que se infundem o fogo do espírito e o poder da palavra Mas advirto que não conteis aos profanos o que aconteceu, pois eles não vos acreditarão e dirão que um homem mortal gerou um filho numa Virgem — e vos amaldiçoarão por tentardes iludi-los em sua boa fé”.

José e Maria se preparavam para partir da caverna onde haviam passado algum tempo quando os Magos vieram ao seu encontro, dizendo: “Onde está o grande Rei cuja estrela anunciou nos céus o seu nascimento? A esta hora seus pais devem estar na estrada, pois passou a hora do advento”. José respondeu: “Vou à Judéia com O Filho de Deus, não Com o Rei, pois seu Reino não é deste mundo, mas sim dos Corações humanos”.

E quando Herodes soube que um grande Rei havia nascido, cumprindo as estranhas predições dos profetas ficou perturbado e mandou fazer averiguações. Quando os Magos souberam o que Herodes ameaçara fazer, preveniram José e ofereceram a Maria ouro, incenso e mirra. José e Maria prosseguiram em sua viagem, por outro caminho.

23/12/2007

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22/12/2007

Esta parte da vida dos Avatares é muito dificil de tratar e de apresentar para os que ainda não alcançaram o elevado grau de compreensão e despertar místicos que trariam naturalmente ao estudante o entendimento da concepção e do nascimento dos Avatares.

Tenho plena consciência de que a história da concepção de Jesus por uma virgem, apresentada pelos cristãos, não é aceita por aqueles que rejeitam as doutrinas cristãs. Na verdade, a versão cristã autorizada, referente à concepção divina é muito dificil de ser compreendida pelo não iniciado e pelo místico não desenvolvido certamente parece uma história inverossímil para as mentes analíticas e que não têm conhecimento das leis e princípios místicos ensinados pelos antigos Mestres.

Talvez eu possa me sair melhor do que outros que tentaram, no passado, transformar a fase mística do nascimento de Jesus em uma apresentação apenas parcial- mente mística; também é possível que eu fracasse completamente. Acontece que não estou limitado por credos ou dogmas que me obriguem a ater-me a uma versão padronizada; se eu não conseguir fazer o leitor compreender, ou quem sabe apreendei o verdadeiro mistério da concepção de Jesus, será por falta de palavras adequadas que expressem em termos gerais algo que todo místico compreende interiormente, e também por causa da impossibilidade de alguns leitores lerem nas entrelinhas e tomarem ciência daquilo que não posso reduzir a precárias palavras impressas.

Primeiramente, deverá ser compreendido por aqueles que se acercarem deste grande mistério com a mente aberta e destituída de preconceitos que Jesus não foi o primeiro grande Mestre, Avatar ou Filho de Deus a “nascer de uma virgem”. A versão cristã autorizada da concepção e do nascimento de Jesus apresenta a história como se fosse única e exclusivamente uma manifestação cristã. Se em nenhuma outra época da História dos mensageiros de Deus na Terra, ou da realização dos planos de Deus para a redenção do homem em todas as eras e ciclos, tivesse ocorrido um acontecimento semelhante ou uma manifestação semelhante dos grandes poderes místicos do universo, operando na forma de manifestação não usual do Deus onipotente, então o mistério da concepção e do nascimento deste grande homem seria bem mais dificil de explicar e muito mais dificil de compreender.

Para os místicos do Oriente em todas as terras e em todas as épocas, o grande mistério da Virgem e do nascimento espiritual de um Filho de Deus não só é uma possibilidade mas um faro natural na vida de todo grande A vaiar Cristãos ou estudantes da literatura cristã na América, acostumados a ouvir o mistério da Concepção da Virgem descrito como um dos problemas de fé, um dos pontos da doutrina onde se desfaz a fé de milhares de cristãos, ficam surpresos, ao viajarem para terras estrangeiras, quando descobrem que pessoas que nem sequer pertencem à fé cristã, como muçulmanos, hindus, budistas e outros, não têm qualquer dificuldade em aceitar a história de uma concepção e um nascimento divinos e espirituais, acreditando, inclusive, que esta característica de Sua vida é a única que justifica a afirmação de que Jesus foi o grande Redentor e Salvador do mundo. Na verdade, em minha recente viagem por terras onde entrei em contato com pessoas de religiões onentais, verifiquei que a maioria não-cristã se expressava sobre o assunto do seguinte modo: “Se vocês cristãos acreditam que Jesus era Filho de Deus, ou o Mensageiro Divinamente Nomeado para redimir qualquer parte do mundo pela mensagem que trazia, então devem acreditar que Ele foi divinamente concebido e trazido à luz, pois este é o único nascimento aceitável, se Ele foi realmente um Mensageiro Divino.” Quando expliquei a essas pessoas que havia cristãos ou estudantes da doutrina cristã que não conseguiam aceitar a idéia da Divina concepção e nascimento, mas que acreditavam ser Jesus um grande Mestre, um Mensageiro Divinamente Nomeado, um verdadeiro Filho de Deus, um Avatar de extraordináriaautoridade superior, esses orientais simplesmente sorriram e disseram que este ponto de vista era um absurdo, pois, de acordo com seu modo de pensar, nenhum homem humanamente concebido e nascido poderia alcançar um grau de Autoridade Divina capaz de torná-lo o Cristo de seu tempo. Vemos, portanto, que o grande problema não é o problema relativo ao fato da concepção da Virgem ou da Divina Filiação de Jesus, mas o problema da compreensão humana por parte da consciência do mundo Ocidental em comparação com a consciência que ncontramos no mundo oriental. Em outras palavras, estamos frente a frente com o fato de que não é a validade da afinnação quanto à divina concepção pela Virgem Maria que deve merecer uma meditação séria por parte dos estudantes de misticismo no mundo ocidental e sim a falta de compreensão por parte de milhões que ainda não alcançaram o devido grau de compreensão espiritual a respeito de leis espirituais em ação por ocasião de acontecimentos tão importantes. Os onentais de qualquer religião nos apontam o fato de que, no mundo ocidental, estamos tentando resolver um princípio do mundo espiritual com o qual estamos muito pouco familiarizados e alcançar uma compreensão para a qual não temos o menor preparo. Os místicos de todas as terras concordam em dizer que, enquanto o homem não estiver preparado, pelo desenvolvimento espiritual e pela compreensão das leis maiores, para compreender facilmente e com sublime plenitude a verdade da concepção e do nascimento divino, não estará de forma alguma pronto para compreender os ensinamentos e a verdadeira mensagem trazida a este mundo por qualquer grande Avatar, especialmente o último e maior de todos, Jesus, o Cristo.

Isto não significa que seja impossível que o estudante sincero das doutrinas cristãs compreenda pelo menos as leis místicas envolvidas na possibilidade da Concepção Divina, mas significa que cada estudioso deve tentar ver e compreender o misticismo que forma a base de todas as doutrinas cristãs. Os Rosacru.zes seguem o mesmo ponto de vista dos orientais sobre o assunto; ou seja, o de que o cristianismo ortodoxo do mundo ocidental de hoje despreza excessivamente o misticismo e os princípios místicos fundamentais para o cristianismo e que constitufram o prístmo cristianismo da antiguidade. Em outras palavras, dedicam muito tempo ao significado literal das palavras e à interpretação material dos princípios do cristianismo,o que significa uma negligência quase total quanto ao misticismo puro, o qual torna possível uma compreensão real ou espiritual do cristianismo, tal como era originalmente.

Acrescente-se a relutãncia por parte do mundo ocidental em aceitar como fatos e possibilidades reais os chamados milagres da Bíblia. Não concordo com autoridades como o falecido William Jennings Bryan e outros, que afirmaram que a tendência científica do nosso pensamento e nossa educação muito científica nos levaram à cegueira quanto às verdades espirituais da Bíblia e da literatura sacra em geral.

Não acredito que a ciência materialista seja de qualquer forma responsável pela incapacidade ocidental de compreender as declarações espirituais dos escritos sagrados da Bíblia e de outros livros de outros credos. Acredito, isto sim, que a falta de capacidade da mente ocidental se deve ao estado adormecido do lado espiritual de nossa natureza e à ausência (a não ser nas várias escolas de metafísica e ocultismo do mundo ocidental) de ensinamentos espirituais que nos preparem adequadamente para compreender coisas que são facilmente compreendidas e aceitas completamente pela mentalidade oriental.

Afirmei anteriormente que devemos ter em mente que Jesus não foi o primeiro dos grandes mestres mensageiros de Deus a nascer de uma virgem, ou a ser concebido pelo Princípio Divino. Algumas referências a incidentes semelhantes do passado ajudarão os leitores a compreender o que significa a aflnnação que fiz.

É tão verdadeiro que Nascimentos Divinos e Concepções Divrnas eram fatos aceitos pelos antigos que, sempre que eles ouviam falar numa pessoa que se distinguia notavelmente nos assuntos humanos, imediatamente a classificavam como urna pessoa nascida de linhagem sobrenatural. Mesmo nas religiões pagAs, supunha-se que vários deuses haviam descido do Céu e se encarnado como homens, O erudito Thomas Maunce, em seu singular Livro IndianAnriquities, chega a declarar que “em todas as eras e em quase todas as religiões do mundo asiático, parece haver florescido uma tradição uniforme e imemorial segundo a qual um deus, por toda a eternidade, tinha gerado outro deus.

Posso acrescentar que nossos próprios registros de tradições antigas e escrituras sagradas contêm muitas referências a movimentos religiosos da antiguidade, cujo grande lider era considerado “O Filho de Deus”

A Índia teve um grande número de Avatares ou Mensageiros Divinos, Encarnados por Concepção Divina, tendo dois deles levado o nome de “Chrishna”, ou “Chrishna o Salvador”. Consta que Chrishna nasceu de uma virgem casta chamada Devaki que, por sua pureza, fora escolhida para se tornar a mãe de Deus. Neste exemplo, encontramos a antiga história de uma virgem dando à luz um mensageiro de Deus divinamente concebido.

Buda foi considerado por todos os seus seguidores como gerado por Deus e nascido de uma virgem chamada Maya ou Maria. Nas antigas histórias sobre o nascimento do Buda, tais como são compreendidas por todos os orientais e como são encontradas em seus escritos sagrados muito anteriores à Era Cristã, vemos como o poder Divino, o Espírito Santo, desceu sobre a virgem Maya. Na antiga versão chinesa desta história, o Espírito Santo é chamado Shing-Shin.

Os siameses tinham igualmente um deus e salvador nascido de uma virgem e que eles chamaram Codom. Nesta velha história, a bela e jovem virgem fora informada com antecedência de que se tomaria mãe de um grande mensageiro de Deus e, um dia, enquanto fazia seu período usual de meditação, concebeu através de raios de sol de natureza Divina. O menino nasceu e cresceu de maneira singular e notável, tomou-se um protegido da sabedoria e fez milagres.

Quando os primeiros europeus visitaram o Cabo Comonn, na extremidade sul da península do Industão, surpreenderam- se ao encontrar os naturais do lugar, que nunca haviam tido contato com as raças brancas, cultuando um Senhor e Salvador que fora divinamente concebido e nascera de uma virgem E quando os primeiros missionários jesuítas visitaram a China, escreveram em seus relatórios que haviam ficado consternados por encontrarem na religião pagã daquela terra a história de um mestre redentor que nascera de uma virgem por concepção divina. Ao que consta, esse deus havia nascido 3468 anos a.C. Lao-Tse, o famoso deus chinês, também nascera de uma virgem, de pele negra, sendo descrita como bela e maravilhosa como o jaspe.

No Egito, bem antes do advento do cristianismo e muito antes do nascimento dos autores da Bíblia ou de qualquer doutrina concebida como cristã, o povo egípcio já tivera vários mensageiros de Deus nascidos de virgens por Concepção Divina. Hórus, segundo o sabiam todos os antigos egípcios, havia nascido da virgem Isis, sendo sua Concepção e seu nascimento um dos três grandes mistérios ou doutrinas místicas da religião egípcia. Para eles, todos os incidentes ligados à Concepção e ao nascimento de Hórus eram pintados, esculpidos, adorados e cultuados como o são os incidentes da Concepção e do nascimento de Jesus pelos cristãos de hoje. Outro deus egípcio, Ra, nascera de uma virgem. Examinei uma das paredes de um antigo templo na margem do Nilo, onde há um belo quadro esculpido representando o deus Tot — o mensageiro de Deus — dizendo à jovem Rainha Mautmes que daria à luz um Divino Filho de Deus, que seria o rei e Redentor de seu povo.

Ao nos voltarmos para a Pérsia descobrimos que Zoroastro foi o primeiro dos redentores do mundo a ser aceito como nascido em plena inocência, pela concepção de uma virgem. Antigos entalhes e pinturas deste grande mensageiro mostram-no cercado por uma aura de luz que inundava o humilde local de seu nascimento. Ciro, rei da Pérsia, também era tido como nascido de origem divina, e nos registros de seu tempo ele é chamado de Cristo ou Filho ungido de Deus e considerado mensageiro de Deus.

A serpente era usada como símbolo místico nos antigos escritos sagrados de várias escolas de religião, sendo freqüentemente usada como emblema da “Palavra” ou “Logos”. Neste sentido, tornou-se o símbolo do tentador na queda do homem. A serpente também era o emblema do Espírito Santo ou o Poder que impregnava a vida na virgem. Neste sentido era a encarnação do “Logos”. O emblema que aqui mostramos representa a serpente tal como foi esculpida em muitos monumentos antigos. representando o “Logos”. Os ofitas também veneraram o mesmo símbolo como emblema dc Jesus, o Cristo.

O próprio Platão, nascido em Atenas em 429 a.C. era um Divino Filho de Deus nascido de uma virgem pura chamada Perictione, segundo acreditava o povo em geral. Está escrito em antigos registros que o pai de Platão, conhecido pelo nome de Ai-is, havia sido advertido por um sonho espiritual a manter pura e sagrada a pessoa de sua esposa, até que ocorresse a Divina Concepção e o nascimento da criança esperada, cuja concepção seria por meios Divinos.

Apolônio, que ainda vivia e fazia grandes milagres e transmitia grandes ensinamentos em várias terras durante a primeira parte da vida de Jesus, também nascera de mãe virgem, de acordo com as histórias a seu respeito enquanto ele vivia e logo após sua morte. De acordo com essas histórias, em 41 a.C. a mãe de Apolônio fora informada por um deus, em sonho, que daria à luz um grande mensageiro de Deus, que seria conhecido pelo nome de Apolônio.

E por falarmos de famosos mestres e fa.zedores de milagres que deixaram registros indiscutivelmente autênticos de grandes serviços prestados à humanidade, isto nos faz lembrar que Pitágoras., nascido em 570 a.C., aproximadamente, era honrado como Divino não só enquanto estava vivo mas também após sua morte. De acordo com o que dizem os escritos sagrados a seu respeito, sua mãe o concebera através de um espectro, ou o Espírito Santo, que lhe aparecera. Seu pai, ou pai adotivo, também fora informado por uma visão de qie sua mulher iria ter um filho divinamente concebido e de que este filho se tomaria um benfeitor da humanidade.

A história de Esculápio também é bastante interessante. Ele se tornou um grande fazedor de milagres, um mensageiro que trazia uma mensagem Divina para toda a humanidade, e foi considerado um verdadeiro Filho de Deus. Quando os micenianos decidiram investigar o nascimento de Esculápio, consultaram o oráculo de Delfos, sendo informados de que um Deus invisível ou Espírito Santo do reino Divino era seu pai, de que Coronis era sua mãe terrena e de que ele havia nascido em Epidauro. De acordo com a história, quando Coronis passou pelo sagrado evento da Divina Concepção, procurou esconder seu estado de seu pai, porque não acreditava que pudesse fazer os seres terrenos compreenderem a estranha ocorrência. Ela então procurou refúgio em Epidauro, onde a criança nasceu meses mais tarde, em um pobre e humilde estábulo de cabras, na montanha. Um pastor de cabras, cujo nome era Arístenes, ao procurar uma cabra e um cão que haviam se perdido do rebanho, descobriu a criança no estábulo e a teria levado para casa se não tivesse percebido, ao aproximar-se do bebé, que sua cabeça estava cercada por raios brilhantes, o que o fez ver que a criança era um Ser Divino. Sua história a respeito do achado se espalhou pela região, e pessoas de todas as partes afluiram ao estábulo para prestar homenagens ao Filho de Deus, trazendo valiosos presentes que depositavam aos pés da criança. O menino foi honrado como um deus, não só na Fenícia e no Egito, mas, também na Grécia e em Roma.

Também neste lado do grande oceano as tribos da América do Norte e do Sul tinham deuses supostamente nascidos de maneira Divina. Muito antes da chegada de Colombo, os habitantes do antigo México cultuavain um salvador e redentor do mundo que chamavam de Quetzalcoatl, nascido de uma virgem imaculada, segundo as tradições que os santos padres que haviam acompanhado Colombo descobriram nos antigos escritos esculpidos nas paredes dos templos. De acordo com a história, já muito antiga, um mensageiro do céu havia anunciado a sua mãe que ela conceberia um filho por Concepção Divina e que ele seria o salvador do mundo. Um hieróglifo mexicano relatava a história da Divina Concepção e do nascimento deste deus.

Os maias do Yucatan também tinham um deus nascido de mãe virgem, o qual correspondia a Quetzalcoatl e se chamava Zama, considerado como o “único filho do Deus Supremo”.

Na Nicarágua, no Peru, na Guatemala e em outros países, havia outros deuses divinamente concebidos e nascidos de maneira singular.

Acredito ter demonstrado, através destes poucos exemplos escolhidos dentre centenas de outros, todos muito bem confirmados e registrados, que entre os orientais e especialmente os povos cujas religiões tinham uma base mística bem desenvolvida, a idéia da Virgem e do Nascimento Divino não era uma improbabilidade e sim uma possibilidade muito bem aceita.

Muitos críticos da história da concepção de Jesus por uma virgem argumentaram que, se Jesus fora concebido e nascido tal como afirmam os registros cristãos, era estranho que nenhum dos escritores contemporâneos, nenhum discípulo e nem mesmo Jesus tivesse feito qualquer referência a este fato durante Sua vida, e que só passados muitos anos de Sua morte se popularizasse a história de seu nascimento. Esta argumentação só teria sentido e razão se o nascimento Divino fosse um caso único e exclusivo de Jesus, ou seja, se Ele tivesse sido o primeiro e o único dos mensageiros de Deus a ser considerado de origem e nascimento Divinos. Mas se levarmos em conta que fazia parte da crença geral dos povos orientais e também do Egito e da Palestina que todo grande mensageiro, todo Avatar, todo Filho de Deus ordenado por decreto Divino para elevar o nível dos povos de seu tempo, nascia por Concepção Divina, então podemos compreender porque, no caso de Jesus, nem Seus discípulos nem os historiadores consideraram o caso digno de ser ressaltado, de ser tratado com entusiasmo, ou considerado um milagre incomum como o faz a igreja cristã hoje em dia.

Ao examinar os documentos bastante completos sobre os antigos Avatares e Filhos de Deus pré-cristãos que muito influenciaram o desenvolvimento da civilização, vemos nos registros Rosacruzes e em alguns outros escritos fragmentários que os discípulos e seguidores de cada um desses Avatares ou mensageiros gastavam mais tempo e esforço para registrar os ditos, ensinamentos e demonstrações dos Avatares, mostrando pouca preocupação em registrar os acontecimentos ligados a seu nascimento ou transição. Mesmo nos vários casos em que a concepção Divina e o nascimento Divino desses Avatares pré-cristãos de várias terras são registrados, as frases são breves, concisas e, com freqüência, meramente incidentais na história que está sendo contada. Os fatos relativos ao nascimento de uma Virgem são tratados sumariamente, como se fossem de importância secundária e devessem ser simplemente aceitos pelos leitores da vida desses Avatares. Em nenhum caso encontramos evidências de que os discípulos e seguidores dos Avatares considerassem a concepção e o nascimento Divinos como motivo de adoração e culto, como ocorre hoje no caso dos ensinamentos cristãos. Com grande freqüência, as passagens referentes a esses nascimentos miraculosos eram feitas com a mesma brevidade com que hoje em dià comentamos que um grande homem nasceu nesta ou naquela data, na certeza de que todos nascem, de que devem nascér em algum lugai da maneira que se adapta à sua raça e às condições do país onde se deu o acontecimento.

Estou certo de que, uma vez considerados estes dados, aqueles que até agora se sentiram confusos por existirem tão poucas referências históricas nos escritos antigos a respeito da Divina Concepção e nascimento de Jesus, compreenderão que estiveram procurando algo que, do ponto de vista oriental, não representou o fato mais notável ou importante de Sua vida. Não resta dúvida de que, para os orientais, a vida, os ensinamentos e demonstrações práticas dos ensinamentos, por parte dos Avatares, eram os fatores importantes, e de que os incidentes relativos ao nascimento e ao local de sua ocorrência, e ao final da vida, eram pontos a serem considerados apenas pelos associados mais íntimos dos Avatares, sendo registrados simplesmente com o propósito de completar a narrativa.

Outro ponto importante a considerar é que a razão da aceitação geral dos místicos quanto à Divina Concepção encontra-se na crença comum entre os místicos e filósofos orientais de que o poder do pensamento, ou o poder de uma palavra mental ou audível é capaz de impregnar a matéria e levar a matéria sem vida à consciência. Se admitimos a idéia de que a impregnação da matéria desta forma mística é um milagre singular de natureza duvidosa, jamais provada e só aceitável com base na fé, então devemos admitir a idéia de que todos os ensinamentos fundamentais dos místicos do Oriente, e todas as afirmações da literatura mística e oculta, feitas por homens competentes de fama e integridade bem comprovadas, são falsas, infundadas, precárias e indignas de nossa consideração. Se for este o caso, então pouco temos a esperar dos ensinamentos que nos vêm do Oriente, e temos poucos motivos para crer no poder superior e nos ocultos e secretos princípios da energia Divina. Os místicos de todos os tempos afirmaram, e através dos chamados milagres comprovaram para si mesmos, que certos princípios latentes e poderosos podem ser invocados pelo homem e são aplicados por Deus no processo criativo do universo. A própria criação do mundo é considerada por todos os místicos do Oriente como a primeira grande demonstração da potência do Logos, ou o poder da Palavra enviada ao espaço onde não existia vida, resultando na sua imediata impregnação e na manifestação da matéria viva. Os místicos do Oriente acertadamente afirmam que, no começo, toda a matéria não-viva foi impregnada com vida por um processo Divino, sem a aplicação de leis materiais. Nenhum outro conceito é possível ou aceitável para eles. Se a primeira manifestação de vida, por este processo, é aceita, por que haveríamos de contestar demonstrações menores no caso de um ser individual, ou da impregnação de uma única célula de vida?

Os místicos de todos os tempos demonstraram que mesmo a palavra falada, composta de um som vocálico adequadamente pronunciado pelo homem, tem o poder de perturbar o estado da matéria, de fazê-la vibrar ou modificar sua natureza elementar ou sua composição química. Para comprovar este fato, místicos do Oriente — e alguns místicos muito evoluídos do Ocidente — aprenderam a forma de emitir um som ou produzir um som em uma corda de violino ou outro instrumento musical, capaz de causar uma manifestação na matéria. É comum entre os Rosacruzes e místicos de outras escolas, que aprenderam o procedimento e desenvolveram o adequado grau de perfeição quanto a estas coisas, pronunciar sons vocálicos ou, através da concentração mental, dirigir energias invisíveis e poderosas a pontos focais, de modo a causar uma manifestação na matéria viva e não-viva. É objetivo e ambição de milhões de estudantes da lei mística alcançar o grau de perfeição que lhes permita realizar aparentes milagres desta espécie. Para estes místicos, e para a mente racional que compreende as leis envolvidas no processo, pareceria claro que, se o homem é capaz de aplicar estes princípios místicos deste modo, certamente não seria improvável, e muito menos impossível, que a Mente de Deus tivesse dirigido certos poderes na impregnação da matéria e efetivado não só a Divina Concepção que éo assunto deste capítulo, mas, também muitas manifestações semelhantes de natureza incomum.

Por consegurnte, o Rosacruz de compreensão evoluída, ou o místico de alta espiritualidade, aceita pronta e compreensivamente o nascimento de Jesus de uma virgem e nisto não vê qualquer violação da lei espiritual ou natural, nem qualquer exceção aos princípios verdadeiramente científicos.

Os que não conseguem aceitar a Imaculada Conceição ou o Nascimento Divino do Mestre Jesus, provavelmente estão dominados pela compreensão limitativa do pensamento materialista, e não alcançaram ainda o desenvolvimento espiritual que possibilite a compreensão e apreensão das leis mais elevadas.

Só há um ponto em que os Rosacruzes e os místicos orientais discordam da igreja cristã fundamentalista ou estritamente ortodoxa: Trata-se da singularidade da concepção e do nascimento do Mestre Jesus. As doutrinas cristãs ensinam que Jesus foi o único filho de Deus, o único caso da Palavra feita carne e pela qual Deus enviou à Terra um Filho divino para redimir o mundo. Os Rosacruzes entendem que Jesus não foi o primeiro e único, mas o último e maior de todos os mensageiros de Deus concebidos desta forma e nascidos na Terra.

Isto nos leva a outro ponto, a ser considerado antes de apresentannos a antiga e mística história do nascimento de Jesus. Em um dos capítulos anteriores, declarei que os Essénios, os Nazarenos e os místicos da Palestina em geral esperavam a chegada de um grande Mestre que seria a encarnação de um dos grandes líderes anteriores. Também afirmei que era uma crença comum entre os judeus que o Messias que esperavam seria, igualmente, a encarnação de um de seus líderes anteriores. Nas declarações em questão, o leitor pode perceber a crença, por parte do povo do Oriente, no fato da reencarnação, uma crença comum em todo o mundo oriental e que hoje representa um princípio positivo no pensamento filosófico e religioso de mais de três quartos da população da Terra, o qual só é questionado por uma parte dos habitantes do mundo ocidental. Os orientais também sabiam, através de experiências anteriores, que os grandes Avatares e mensageiros de Deus, enviados de tempos a tempos conforme as necessidades da evolução das raças, eram a reencarnação de grandes almas que haviam vivido na Terra e que haviam alcançado, em cada encarnação, um grau cada vez mais elevado de expressão espiritual e maestria.

Saber quando cada um desses mensageiros apareceria em sua última e final encarnação era impossível, mas como todas as encarnações eram progressivas, e como cada novo mensageiro era maior e mais elevado que o precedente, os Essênios, os Nazarenos e até os Judeus da Palestina esperavam que o mensageiro que lhes seria enviado seria maior que qualquer outro que o precedera, e que provavelmente seria a reencarnação de um dos maiores que os haviam servido no passado. Era natural para os judeus sentir que o mensageiro ou Messias seria a reencarnação de um de seus salvadores precedentes, possivelmente Moisés, e certamente alguém da Casa de Davi. Por outro lado, os Essênios e outros da raça ariana acreditavam (baseando sua crença numa compreensão mais profunda das leis místicas que a dos judeus) que o novo grande Mestre e redentor do mundo seria de raça ariana, a reencarnação de um dos grandes Mestres que haviam servido o mundo em outras terras e que não estaria limitado às tribos de Israel.

Por isto os Essênios da Palestina, do Egito e de outros locais, estavam certo de que o próximo grande Mestre seria de sua própria raça e viria através de membros de sua própria organização, porque os Essênios representavam, na época, o grupo mais evoluído e espiritualmente treinado da Terra.

11/12/2007

Conta a lenda que uma vez uma cobra começou a perseguir um vaga-lume.. O vaga-lume fugia rápido, com medo da feroz predadora, e a cobra nem pensava em desistir.

Dois dias, e nada... No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e perguntou para a cobra:

- Posso lhe fazer três perguntas?

- Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te devorar mesmo, pode perguntar...

- Pertenço a sua cadeia alimentar?

- Não!

- Eu lhe fiz algum mal?

- Não...

- Então por que quer acabar comigo?

- Porque não suporto ver você brilhar!!!0

10/12/2007

http://rapidshare.com/files/33841963/Carlos-Castaneda.zip.html E-books de Carlos Castaneda, todos em .pdf: 1. A Erva do Diabo 2. O Fogo Interior 3. O Lado Ativo do Infinito 4. O Poder do Silêncio 5. O Presente da Águia 6. O Segundo Círculo do Poder 7. Porta para o Infinito 8. Uma Estranha Realidade 9. Viagem a Ixtlan

25/11/2007


Mauro Almeida
  Os usos ritualizados da bebida conhecida entre outros nomes como “ayahuasca” saíram do âmbito das sociedades indígenas amazônicas para se difundirem, seja entre seringueiros na floresta, seja sessões de cura de vegetalistas andinos, seja em cultos urbanos espalhadas pelo Brasil e pelo mundo.

  Esse e o fenômeno que este livro aborda, com um quadro ao mesmo tempo comparativo e multidisciplinar, cheio de informações e de perspectivas. Certamente suscita muitas questões de análise e interpretação, motivadas entre outras razões pelo fato de tratar em um só volume do xamanismo indígena sul-americano, das religiões criadas por seringueiros da Amazônia, e do uso de plantas de poder associado a práticas terapêuticas e ao chamado neo-xamanismo.

  Esse volume retoma o estado da arte desse conjunto de questões. Ele trata principalmente do que Jean Langdon (1988) chamou de “xamanismo genérico”, e da re-utilizaçao das plantas psicoativas de origem indígena e sul-americana em diferentes contextos culturais. Esse ponto deve ser destacado, pois embora o livro contenha expressivas contribuições à etnologia indígena (nos artigos de Jean Langdon, Barbara Keifenheim e Pedro Luz), a sua contribuição mais extensiva são os capítulos que mapeiam o que Beatriz Labate chamou de campo das religiões ayahuasqueiras brasileiras e suas ramificações neo-xamánicas.

  Talvez sejam cabíveis alguns comentários sobre as relações entre esses vários contextos, sobre as quais o volume nos convida a refletir. A ayahuasca e bebidas similares são utilizadas por diferentes populações indígenas em um arco que vai das nascentes do Ucayali às cabeceiras do Rio Negro. Ao longo desse arco habitado por povos de refinada farmacologia e ricas cosmologias, povos indígenas dos troncos lingüísticos Pano, Aruák e Tukano parecem compartilhar uma filosofia da natureza segundo a qual existem diferentes espíritos encarnados nas pessoas, nos animais e nas plantas, alguns ligados ao corpo e outros separáveis dele - como mostram Pedro Luz, Jean Langdon e Barbara Keifenheim neste volume. Os xamãs teriam a capacidade de ver esses espíritos e de se transformarem eles próprios em diferentes seres. O capítulo de Barbara Keifenheim enfatiza o fato de que tal capacidade, ajudada pelos similares da ayahuasca, não é privilégio de xamãs. Xamãs e não-xamãs utilizam-se da ayahuasca (nixi pae, yahe, kamarampi, caapi) como operadores que, agindo sobre o corpo, permitem o trânsito entre o mundo ordinário e a realidade verdadeira onde vivem os espíritos, como no sonho e na morte; mas, ao contrário do que ocorre na morte, de maneira reversível, e ao contrário do que ocorre no sonho, de maneira controlada. As substãncias psicoativas, portanto, possuem um papel, ao lado dos sonhos, de danças, do canto e de outras técnicas, como operadores que modificam o corpo e a mente, tanto por exacerbar a experiência sensível como ao abrir caminho para viagens no tempo e no espaço e revelar a existência dos seres que habitam o mundo verdadeiro (ver Robin Wright 1998, pp. 75-94; Langdon 1996, p. 28).

  Segundo Eduardo Viveiros de Castro, o perspectivismo ameríndio coloca a ênfase não na oposição entre um mundo visível e um mundo invisível, e sim na idéia de que o mundo humano se prolonga no mundo dos animais e outros seres que chamamos de naturais - sendo então todos, humanos e animais, equivalentes entre si, mas associados a diferentes perspectivas, vinculadas a corpos distintos, a diferentes roupas ou hábitos. O xamã seria então um viajante em trânsito, não entre mundos, mas entre corpos capazes de adotar perspectivas alternadas, todos eles cidadãos de um mesmo mundo (Viveiros de Castro 1996): como se fossem antropólogos capazes de mudar de perspectivas ao se vestirem como os nativos.



A organização deste livro surgiu a partir do 1 CURA, o Primeiro Congresso sobre o Uso Ritual da Ayahuasca, realizado nos dias 4 e 5 de novembro de 1997 no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. O evento foi idealizado e organizado por Beatriz Caiuby Labate, foi patrocinado pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social e contou com o apoio do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da mesma universidade.
Ayahuasca é uma palavra de origem quíchua e significa liana dos espíritos ou ainda cipó da alma, dos mortos (Luna 1986). O termo é um dos mais utilizados para designar uma bebida psicoativa preparada geralmente com duas plantas (pode haver algumas variações): a liana ou cipó propriamente dito, cujo nome científico é Banisteriopsis caapi, e as folhas do arbusto Psicotria viridis. O objetivo do Congresso era estudar os usos rituais da ayahuasca em diferentes contextos que vão de cerimonias de indígenas sul-americanos a cultos urbanos. Esses usos rituais difundiram-se enormemente nos últimos anos, na América do Sul e em outros continentes, e têm sido pesquisados por um número crescente de estudiosos. O congresso tinha a finalidade básica de aproximar esses pesquisadores da ayahuasca, divulgar o estado da pesquisa sobre o assunto, e contribuir para o melhor conhecimento da ayahuasca e de seus usos rituais.
Durante dois dias, os pesquisadores reunidos debateram em mesas e palestras os aspectos históricos e antropológicos do uso ritual da ayahuasca, como o ritual, a cosmologia e o sincretismo, e trataram de seus aspectos psiquiátricos, psicológicos e legais. Entre os participantes havia antropólogos, historiadores, médicos, psicólogos, psiquiatras e representantes de diversos grupos ayahuasqueiros, além de um representante do Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), oriundos de diferentes regiões do país e do exterior, O intuito era, justamente, colocar em contato estudiosos das mais diversas áreas, permitindo uma abordagem de fato interdisciplinar e que fosse capaz de dar conta das múltiplas dimensões envolvidas no uso ritual de psicoativos por grupos humanos.
O livro nasceu do projeto de reunir as conferências apresentadas no encontro. Entretanto, acabou ganhando conteúdo e volume mais amplo, já que mais da metade dos capítulos agora publicados foram escritos por pesquisadores que não participaram do evento.
A presente publicação, dando continuidade à tarefa iniciada no 1 CURA, visa antes de mais nada promover uma abordagem aprofundada de um assunto que é muitas vezes tratado pelos meios de comunicação com enfoques superficiais e simplificadores, que em nada contribuem para a compreensão de um fenômeno com a complexidade própria dos usos rituais da ayahuasca.
Um dos nossos objetivos é mostrar essa complexidade, com um panorama do “estado da arte” da pesquisa sobre o tema, dando ao leitor a oportunidade de tomar contato com o que tem sido produzido sobre temas que vão desde o uso da ayahuasca entre povos da floresta - populações indígenas, curandeiros e seringueiros até os usos da bebida por doutrinas religiosas urbanas como o Alto Santo, o LEFLURIS, a Barquinha e a União do Vegetal, incluindo também análises médicas, psiquiátricas e psicológicas que têm sido realizadas em torno do chá. Ao mesmo tempo, pretendemos incentivar o desenvolvimento deste campo de estudos emergente, chamando a atenção para a necessidade de mais pesquisas na área. Assim, esperamos que o livro seja capaz de seduzir cientistas de diversos campos para os problemas antropológicos, psicológicos e médicos envolvidos neste amplo domínio que estamos denominando como ‘uso ritual da ayahuasca’.
Por último, gostaríamos de frisar que esse é o primeiro esforço sistemático para reunir em uma coletânea no Brasil textos diversos e originais sobre o tema. Esperamos desta forma preencher uma lacuna neste cenário composto de um lado por grande diversidade empírica e de outro por pouca articulação e diálogo entre pesquisadores.
A primeira parte da obra, Ayahuasca entre os Povos da Floresta, é constituída por sete artigos que tratam de usos da bebida por indígenas da floresta amazônica (Pedro Luz, Jean Langdon e Barbara Keifenheim), curandeiros e xamãs no sopé andino (German Zuluaga, Jacques Mabit e Luis Eduardo Luna) e seringueiros do Acre (Mariana Pantoja Franco e Osmildo Silva da Conceição).


Esther Jean Langdon
O uso de Banisteriopsis faz parte, entre os grupos indígenas da região amazônica, de uma experiência cultural e subjetiva e para entender esta experiência, é necessário ir além da análise dos efeitos psicoquímicos desta substância psicointegradora. Para compreender o uso, os efeitos e as possibilidades da Banisteriopsis, é necessário um olhar transdiciplinar. Utilizo a palavra psicointegrador, de acordo com a acepção de Winkelman (1996, p. 11), para me referir a uma abordagem neurofenomenológica que integra neurofisiologia, psicobiologia, estudos de estados alterados de consciência, observações clínicas, estudos etnográficos e comparativos sobre o uso e os efeitos das substâncias trad icionalmente chamadas psicodéllcos ou alucinógenos. A antropologia faz uma contribuição através do seu enfoque cultural; este olhar, porém. não é por mera curiosidade de entender como os outros utilizam estas substâncias. Os grupos Indígenas amazônicos têm utilizado a Banisteríopsis milenarmente para vários fins, e o saber advindo desta experiência milenar não é de se ignorar.
Um dos assuntos poucos explorados na antropologia é como os próprios índios descrevem sua experiência com psicointegradores. Esta experiência é uma construção subjetiva e neurofisiológica mas ao mesmo tempo é permeada de orientações culturais de como percebê-la e interpretá-la. Dado o uso milenar da Banistertopsis, penso que a voz deles nas descrições da experiência é de suma importância para uma abordagem transdisciplinar. É necessário entender o uso e os efeitos de Banisteriopsis como uma experiência mediada pela cultura.
Assim, neste trabalho quero explorar uma narrativa contada por um índio Siona sobre uma experiência que aconteceu na sua aprendizagem como xamã. Apesar de apresentar só texto, este texto é representativo das narrativas em geral desta cultura sobre a “toma” de yagé - a palavra que eles usam para designar as várias misturas feitas de Banisteriops e seus aditivos preparadas para conhecer os lados invisíveis do mundo. Os Siona costumam freqüentemente contar sobre suas experiências com yagé, sobre o que eles viram, o que eles sentiram e o que eles aprenderam. Podemos dizer que estas narrativas fazem parte de uma tradição narrativa e poética (Langdon 1997). Falar sobre suas experiências lhes dá muito prazer e, para que possamos entender melhor a experiência, é necessário ouvi-los da perspectiva psicofenomenológica.
Tomas Banisteripsis ritualmente faz parte do que podemos chamas da recriação da cosmologia xamânica, que nao e limitada a esta substancia nem somente ao xamã, mas que representa um saber englobando toda uma cosmologla e práticas rituais compartilhada pelo grupo. Os Siona, do rio Putumayo no sul da Colômbia, fazem parte de Um complexo xamânico da bacia noroeste da Amazônia, no qual Banisteriopsis é a substância principal para as atividades xamãnicas. Várias pesquisas etnográficas excelentes já foram realizadas sobre os grupos desta região, que se tornou importante para a antropologia com o interesse renovado pelo xamanismo a partir da década de 1960. Assim, posso citar Michael Harner (1972) e seu trabalho sobre os Jívaro; Ken Kensinger (1973) e os Kaxinawá; Scott Robinson (1970) e os Kofán e Marlene Dobkin de Rios (1972) com os mestiços do Peru, entre outros. As pesquisas destes antropólogos foram pioneiras na exploração do papel de psicointegradores na história humana, e eu, como tantos outros, faço parte do processo de continuação deste interesse após os anos de 1970.


Barbara Keifenheim
  Os índios Kaxinawá, cuja práxis alucinógena é o ponto central deste meu estudo, pertencem à família etnolingüística dos índios Pano e vivem na região fronteiriça entre o Peru e o Brasil. Sua população é estimada em aproximadamente 4.600 pessoas (ISA 1996). Em minhas pesquisas de campo, realizadas regularmente desde 1977, concentrei-me exclusivamente nos Kaxinawá do lado peruano. Estes são descendentes de um ramo da etnia, que, no final do auge da exploração da borracha fugiram para a região da nascente do rio Curanja e evitaram qualquer contato com o mundo exterior até final dos anos 1940. Ainda que hoje tenha se completado um processo de assimilação à sociedade peruana, estes Kaxinawá aproveitam seu isolamento geográfico para viver relativamente livres de uma influência externa maciça, em comparação a outros grupos indígenas.
  Ao contrário do que acontece em diversos grupos indígenas amazônicos e em outros grupos Pano, entre os Kaxinawá a utilização de alucinógenos não está associada forçosamente à práxis xamãnica. Para a sua interação com os espíritos, os xamãs Kaxinawá utilizam preferencialmente o tabaco (dume). Somente em casos excepcionais, quando seus métodos não alcançam a cura almejada, é que eles bebem a droga nixe pae em sessões especiais para dialogar com os espíritos. E já que o modelo interpretativo do xamanismo não dá conta do caso Kaxinawá, aqui a questão do sentido e do significado da práxis alucinógena demanda uma outra abordagem. Nos últimos anos, minhas pesquisas evidenciaram que, para alcançar uma compreensão mais profunda deste processo, é imprescindível levar em conta os conceitos indígenas do ver e do visualizar, bem como a integração destes conceitos num complexo universo da percepção. Em outro trabalho, demonstrei detalhadamente como certos conceitos culturais específicos - como o da transformação, da ilusão da realidade externamente perceptível, da existência de múltiplas realidades, da interferência do visível e do invisível, da representação da forma como metamorfose “congelada” etc. - revelam-se como dispositivos igualmente estruturados e estruturantes, que contribuem para a construção das interpretações indígenas específicas das experiências da percepção (Keifenhelm 2000).
  Simultaneamente, comprovei, em nível praxeológico e conceitual, o significado central epistêmico atribuido pelos índios Kaxinawá aos processos de transformação visual, que São Vivenciados em sua plenitude numa experiência sinestésica. Sob a perspectiva dos Caxinawá, as experiências visuais liminares - que em geral podem ser relacionadas tanto a sonhos, delírios febris, comas e alucinações, quanto a certos modos de Contemplação de padrões ornamentais - permitem participar da metamorfose continuamente possível de formas e dimensões. Através deste processo de participação, por meio da auto-experiência sensorial-corporal, manifestam-se os princípios mitológico-cosmológicos coletivos.
  Neste artigo, vou abordar o ritual de droga nixi pae como um dos contextos privilegiados nos quais é rompida a ordem de percepção e de sentido cotidiana. O foco de minha atenção consiste basicamente nas alterações da percepção que ocorrem neste processo. Aqui, o meu interesse não é orientado por questões de caráter nem neurofisiológico, nem sensorial-científico ou perceptual-psicológico. No centro da minha análise encontram-se os discursos indígenas sobre experiências alucinógenas. Em seu fundamento, e a partir da minha observação de muitas sessões de drogas, serão analisados os processos de percepção desde as modalidades sensoriais cotidianas, até a experiência sinestésica.

02/11/2007

Trecho do Capítulo V do livro Porque Sou Espírita, de Américo Domingos, com refutações as acusações do padre Estevão Bittencourt ao Espiritismo no livro "Por que não sou espírita?

O quarto argumento trata-se de “O Conceito de inferno...”. O padre diz o seguinte: “Muitas vezes a má compreensão do que seja o inferno leva a rejeitá-lo em favor do reencarnacionismo. Na verdade, o inferno não é um tanque de enxofre fumegante atiçado por diabos munidos de tridentes, mas é um estado de alma, no qual o indivíduo se projeta por dizer NÃO a Deus: após a morte, a pessoa que morre consciente e voluntariamente avessa a Deus, é respeitada em sua opção definitiva, mas não pode deixar de reconhecer que Deus é o Sumo Bem... e o Sumo Bem que continua a amá-la irreversivelmente. É o fato de que Deus ama uma vez por todas, mas foi conscientemente preterido em favor de bagatelas, que causa o tormento do réprobo. Se Deus desviasse do réprobo o seu amor, ele não sofreria o inferno; mas Deus não pode deixar de amar, porque Ele não se pode contradizer. É precisamente nisto que está o princípio do inferno. Vê-se assim que o inferno, longe de contradizer o amor de Deus, decorre, de certo modo, da grandeza divina desse amor”.

Se o Sumo Bem que é Deus ama irreversivelmente aos seus filhos, sabendo da ignorância de que se acham revestidos os que se encontram avessos a ELE, não pode de forma alguma respeitar a “opção definitiva da negação”, deixando a grande esmagadora maioria da Sua criação ser condenada por todo o sempre. Exatamente por não poder deixar de amar, Deus concede a todos a eternidade do perdão. O “tormento do réprobo” é a consciência do espírito remoendo no Plano Extrafísico, oprimindo-o, recriminando-o. Devido a aparência de prolongar-se indefinidamente, o sofrimento do autojulgamento é denominado de “fogo eterno”. Na realidade, é o “fogo do remorso”. O Mestre Jesus antecipadamente, pôs por terra esse conceito dogmático, com os seguintes ensinamentos, contidos nos versículos a seguir:

1) Certa feita, um discípulo de Jesus perguntou ao Mestre: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe o Cristo: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. (Mt. 18:21-22)

Incomensurável é o amor de Deus, perdoando sempre o filho infrator às suas leis;

2) “Qual dentre vós é o homem que se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou se lhe pedir peixe, lhe dará uma cobra? Ora se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus...” (Mt. 7:9-11)

Se um pai não castiga eternamente ao seu filho, como pode Deus punir um fruto da Sua criação por todo o sempre?

3) Em Mateus 5:25-26: “Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali enquanto não pagares o último centavo.”

O Mestre, peremptoriamente, arrasa com o conceito do inferno, dizendo que a prisão é transitória, a pena não é perpétua. Através do “nascer de novo”, as dívidas serão resgatadas, pagando-se o último ceitil. Daí o Cristo ter dito a Nicodemos que todos teriam que reencarnar: “Importa-vos nascer de novo” (João 3:7)

4) “Jesus visitou e pregou aos espíritos em prisão” (1 Pedro 3:19)

Este versículo liquida inteiramente com o chamado “Suplício Eterno”, porquanto o Mestre foi visitar aos que estavam em sofrimento desde o tempo de Noé (1 Pedro 3:20). O ato de visitar e pregar, explicitamente derruba a possibilidade de existência do inferno, porquanto o Cristo foi às regiões inferiores do Plano Espiritual para pregar, isto é, difundir uma doutrina, propagar idéias virtuosas, preconizar a melhoria espiritual de outrem. Certa feita, quando jovem, praticante do protestantismo, abordei o pastor da igreja que freqüentava, a respeito desse versículo. O reverendo teve a petulância de dizer-me que o Mestre foi ao inferno mostrar a Sua glória para os que lá estão definhando por todo o sempre. Com assaz infelicidade, o “pastor de almas” enquadrou Cristo como um vulgar sado-masoquista, felicitando-se com o sofrimento alheio. Anteriormente, no meu tempo de infância, professava o Catolicismo. Lembro-me que quando indaguei, do sacerdote que ministrava as aulas de Catecismo, o seguinte: – Padre, se eu for para o céu e minha genitora para o inferno, como me comportarei no paraíso, sabendo que minha mãe está sofrendo? O prelado foi muito infeliz e cruel na resposta, dizendo-me que os eleitos esquecem o que foram na Terra. De imediato, redargüi, afirmando-lhe não acreditar que Deus possa fazer uma lavagem cerebral nos que entram no Éden eterno.

Logo me afastei dessa religião, que prega existir nenhum sentimento de piedade e de caridade, subsistindo naqueles que se encontram na beatitude celestial. Inclusive a Summa Theologia de S. Tomás de Aquino; suplemento da parte III, quest. 95, arts 1, 2 e 3, edição de Lião, 1685, T-II, pag. 425, traz a seguinte aberração:

“Os eleitos, no céu, não conservam sentimento algum de amor e amizade pelos réprobos; não sentem por eles compaixão alguma e até gozam do suplício de seus amigos e parentes. Os eleitos o gozam no sentido de que se sentem isentos de torturas, e que, por outro lado, neles terá expirado toda compaixão, porque admirarão a justiça divina” (Retirado do livro Cristianismo e Espiritismo, pag. 247, 6.a edição, FEB).

5) No Antigo Testamento, no livro de Isaías, capítulo 57, versículo 16, está bem claro que não existe condenação eterna: “... não contenderei para sempre, nem me indignarei continuamente, porque, do contrário, o espírito definharia diante de mim e o fôlego da vida que eu criei”.

6) A seguinte passagem do Evangelho nos revela que o sofrimento, após a morte física, é padecido com diferenciação e tem finalidade corretiva: “Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade de seu Senhor e fez coisas dignas de reprovação, levará poucos açoites” (Lc. 12:47-48) O “inferno”, além de não ser eterno, não é o mesmo para todos os pecadores. O próprio Jesus esclarece esta questão, em continuação ao versículo 48: “Mas àquele a quem muito foi dado muito mais lhe pedirão”. Portanto, os espíritos, que reencarnam com conhecimentos espirituais, ou que os adquirem na presente existência, já não sendo mais “porcos para quem não devam ser lançadas pérolas, nem cães para os quais as coisas santas não devam ser dadas” (Mt. 7:6), têm grande responsabilidade e são mais culpados, diante do insucesso na existência física, levando ao “inferno do remorso” (muitos açoites), que os outros espíritos que falharam, sem o conhecimento prévio das coisas espirituais, com o remorso remoendo menos (poucos açoites), já que não tinham idéia precisa do mal em que incorreram. 'Na verdade, existem inúmeros estados de sofrimentos, como inúmeros são nossos erros, porém os erros de uma única existência, jamais poderiam justificar o sofrimento por toda a Eternidade. Se o ser está lesado em seu espírito, devido ao mau procedimento em vida passada, vivendo intenso sofrimento espiritual (fogo eterno), é necessário que reencarne, marcando no corpo físico a sua deficiência, tendo a oportunidade da cura total, através do seu procedimento diante do resgate, expurgando do corpo espiritual a chaga que o maltratava. No decurso de existências sucessivas, o espírito se vai aprimorando e tornando-se apto, através da evolução espiritual, de compreender e habitar o Universo. A Espiritualidade, por intermédio das Escrituras, nos revela a grandiosidade da lei da reencarnação, que permite o nosso aprimoramento, em época certa, quando já teremos “olhos para ver” e “ouvidos para ouvir”, (Mt 11:15). Tudo realmente tem uma causa e fomos criados para a ventura eterna. Com o pensamento voltado para o oceano de galáxias, revelando a grandiosidade da criação, ouvimos, no nosso íntimo, as palavras do representante maior da Divindade, em nosso planeta: “Na casa de meu Pai há muitas moradas...” (Jo. 14:2). O Universo espelha a eternidade de nossos espíritos e nos mostra que o seu Autor, sendo Onisciente e, produzindo uma obra tão gigantesca e maravilhosa, não erraria ao ponto de permitir o “inferno eterno” e deixar que o fruto de Sua Criação, “feito à sua imagem e semelhança” – (Gênesis 1:27), perecesse para todo o sempre. Sem reencarnação só restam o caos e a desesperança (retirado do capítulo “Inferno Eterno ou Reencarnação”, do livro A Queda dos Véus, publicado pelo Centro Espírita Léon Denis, do mesmo autor, Américo Domingos Nunes Filho).