22/12/2007

Esta parte da vida dos Avatares é muito dificil de tratar e de apresentar para os que ainda não alcançaram o elevado grau de compreensão e despertar místicos que trariam naturalmente ao estudante o entendimento da concepção e do nascimento dos Avatares.

Tenho plena consciência de que a história da concepção de Jesus por uma virgem, apresentada pelos cristãos, não é aceita por aqueles que rejeitam as doutrinas cristãs. Na verdade, a versão cristã autorizada, referente à concepção divina é muito dificil de ser compreendida pelo não iniciado e pelo místico não desenvolvido certamente parece uma história inverossímil para as mentes analíticas e que não têm conhecimento das leis e princípios místicos ensinados pelos antigos Mestres.

Talvez eu possa me sair melhor do que outros que tentaram, no passado, transformar a fase mística do nascimento de Jesus em uma apresentação apenas parcial- mente mística; também é possível que eu fracasse completamente. Acontece que não estou limitado por credos ou dogmas que me obriguem a ater-me a uma versão padronizada; se eu não conseguir fazer o leitor compreender, ou quem sabe apreendei o verdadeiro mistério da concepção de Jesus, será por falta de palavras adequadas que expressem em termos gerais algo que todo místico compreende interiormente, e também por causa da impossibilidade de alguns leitores lerem nas entrelinhas e tomarem ciência daquilo que não posso reduzir a precárias palavras impressas.

Primeiramente, deverá ser compreendido por aqueles que se acercarem deste grande mistério com a mente aberta e destituída de preconceitos que Jesus não foi o primeiro grande Mestre, Avatar ou Filho de Deus a “nascer de uma virgem”. A versão cristã autorizada da concepção e do nascimento de Jesus apresenta a história como se fosse única e exclusivamente uma manifestação cristã. Se em nenhuma outra época da História dos mensageiros de Deus na Terra, ou da realização dos planos de Deus para a redenção do homem em todas as eras e ciclos, tivesse ocorrido um acontecimento semelhante ou uma manifestação semelhante dos grandes poderes místicos do universo, operando na forma de manifestação não usual do Deus onipotente, então o mistério da concepção e do nascimento deste grande homem seria bem mais dificil de explicar e muito mais dificil de compreender.

Para os místicos do Oriente em todas as terras e em todas as épocas, o grande mistério da Virgem e do nascimento espiritual de um Filho de Deus não só é uma possibilidade mas um faro natural na vida de todo grande A vaiar Cristãos ou estudantes da literatura cristã na América, acostumados a ouvir o mistério da Concepção da Virgem descrito como um dos problemas de fé, um dos pontos da doutrina onde se desfaz a fé de milhares de cristãos, ficam surpresos, ao viajarem para terras estrangeiras, quando descobrem que pessoas que nem sequer pertencem à fé cristã, como muçulmanos, hindus, budistas e outros, não têm qualquer dificuldade em aceitar a história de uma concepção e um nascimento divinos e espirituais, acreditando, inclusive, que esta característica de Sua vida é a única que justifica a afirmação de que Jesus foi o grande Redentor e Salvador do mundo. Na verdade, em minha recente viagem por terras onde entrei em contato com pessoas de religiões onentais, verifiquei que a maioria não-cristã se expressava sobre o assunto do seguinte modo: “Se vocês cristãos acreditam que Jesus era Filho de Deus, ou o Mensageiro Divinamente Nomeado para redimir qualquer parte do mundo pela mensagem que trazia, então devem acreditar que Ele foi divinamente concebido e trazido à luz, pois este é o único nascimento aceitável, se Ele foi realmente um Mensageiro Divino.” Quando expliquei a essas pessoas que havia cristãos ou estudantes da doutrina cristã que não conseguiam aceitar a idéia da Divina concepção e nascimento, mas que acreditavam ser Jesus um grande Mestre, um Mensageiro Divinamente Nomeado, um verdadeiro Filho de Deus, um Avatar de extraordináriaautoridade superior, esses orientais simplesmente sorriram e disseram que este ponto de vista era um absurdo, pois, de acordo com seu modo de pensar, nenhum homem humanamente concebido e nascido poderia alcançar um grau de Autoridade Divina capaz de torná-lo o Cristo de seu tempo. Vemos, portanto, que o grande problema não é o problema relativo ao fato da concepção da Virgem ou da Divina Filiação de Jesus, mas o problema da compreensão humana por parte da consciência do mundo Ocidental em comparação com a consciência que ncontramos no mundo oriental. Em outras palavras, estamos frente a frente com o fato de que não é a validade da afinnação quanto à divina concepção pela Virgem Maria que deve merecer uma meditação séria por parte dos estudantes de misticismo no mundo ocidental e sim a falta de compreensão por parte de milhões que ainda não alcançaram o devido grau de compreensão espiritual a respeito de leis espirituais em ação por ocasião de acontecimentos tão importantes. Os onentais de qualquer religião nos apontam o fato de que, no mundo ocidental, estamos tentando resolver um princípio do mundo espiritual com o qual estamos muito pouco familiarizados e alcançar uma compreensão para a qual não temos o menor preparo. Os místicos de todas as terras concordam em dizer que, enquanto o homem não estiver preparado, pelo desenvolvimento espiritual e pela compreensão das leis maiores, para compreender facilmente e com sublime plenitude a verdade da concepção e do nascimento divino, não estará de forma alguma pronto para compreender os ensinamentos e a verdadeira mensagem trazida a este mundo por qualquer grande Avatar, especialmente o último e maior de todos, Jesus, o Cristo.

Isto não significa que seja impossível que o estudante sincero das doutrinas cristãs compreenda pelo menos as leis místicas envolvidas na possibilidade da Concepção Divina, mas significa que cada estudioso deve tentar ver e compreender o misticismo que forma a base de todas as doutrinas cristãs. Os Rosacru.zes seguem o mesmo ponto de vista dos orientais sobre o assunto; ou seja, o de que o cristianismo ortodoxo do mundo ocidental de hoje despreza excessivamente o misticismo e os princípios místicos fundamentais para o cristianismo e que constitufram o prístmo cristianismo da antiguidade. Em outras palavras, dedicam muito tempo ao significado literal das palavras e à interpretação material dos princípios do cristianismo,o que significa uma negligência quase total quanto ao misticismo puro, o qual torna possível uma compreensão real ou espiritual do cristianismo, tal como era originalmente.

Acrescente-se a relutãncia por parte do mundo ocidental em aceitar como fatos e possibilidades reais os chamados milagres da Bíblia. Não concordo com autoridades como o falecido William Jennings Bryan e outros, que afirmaram que a tendência científica do nosso pensamento e nossa educação muito científica nos levaram à cegueira quanto às verdades espirituais da Bíblia e da literatura sacra em geral.

Não acredito que a ciência materialista seja de qualquer forma responsável pela incapacidade ocidental de compreender as declarações espirituais dos escritos sagrados da Bíblia e de outros livros de outros credos. Acredito, isto sim, que a falta de capacidade da mente ocidental se deve ao estado adormecido do lado espiritual de nossa natureza e à ausência (a não ser nas várias escolas de metafísica e ocultismo do mundo ocidental) de ensinamentos espirituais que nos preparem adequadamente para compreender coisas que são facilmente compreendidas e aceitas completamente pela mentalidade oriental.

Afirmei anteriormente que devemos ter em mente que Jesus não foi o primeiro dos grandes mestres mensageiros de Deus a nascer de uma virgem, ou a ser concebido pelo Princípio Divino. Algumas referências a incidentes semelhantes do passado ajudarão os leitores a compreender o que significa a aflnnação que fiz.

É tão verdadeiro que Nascimentos Divinos e Concepções Divrnas eram fatos aceitos pelos antigos que, sempre que eles ouviam falar numa pessoa que se distinguia notavelmente nos assuntos humanos, imediatamente a classificavam como urna pessoa nascida de linhagem sobrenatural. Mesmo nas religiões pagAs, supunha-se que vários deuses haviam descido do Céu e se encarnado como homens, O erudito Thomas Maunce, em seu singular Livro IndianAnriquities, chega a declarar que “em todas as eras e em quase todas as religiões do mundo asiático, parece haver florescido uma tradição uniforme e imemorial segundo a qual um deus, por toda a eternidade, tinha gerado outro deus.

Posso acrescentar que nossos próprios registros de tradições antigas e escrituras sagradas contêm muitas referências a movimentos religiosos da antiguidade, cujo grande lider era considerado “O Filho de Deus”

A Índia teve um grande número de Avatares ou Mensageiros Divinos, Encarnados por Concepção Divina, tendo dois deles levado o nome de “Chrishna”, ou “Chrishna o Salvador”. Consta que Chrishna nasceu de uma virgem casta chamada Devaki que, por sua pureza, fora escolhida para se tornar a mãe de Deus. Neste exemplo, encontramos a antiga história de uma virgem dando à luz um mensageiro de Deus divinamente concebido.

Buda foi considerado por todos os seus seguidores como gerado por Deus e nascido de uma virgem chamada Maya ou Maria. Nas antigas histórias sobre o nascimento do Buda, tais como são compreendidas por todos os orientais e como são encontradas em seus escritos sagrados muito anteriores à Era Cristã, vemos como o poder Divino, o Espírito Santo, desceu sobre a virgem Maya. Na antiga versão chinesa desta história, o Espírito Santo é chamado Shing-Shin.

Os siameses tinham igualmente um deus e salvador nascido de uma virgem e que eles chamaram Codom. Nesta velha história, a bela e jovem virgem fora informada com antecedência de que se tomaria mãe de um grande mensageiro de Deus e, um dia, enquanto fazia seu período usual de meditação, concebeu através de raios de sol de natureza Divina. O menino nasceu e cresceu de maneira singular e notável, tomou-se um protegido da sabedoria e fez milagres.

Quando os primeiros europeus visitaram o Cabo Comonn, na extremidade sul da península do Industão, surpreenderam- se ao encontrar os naturais do lugar, que nunca haviam tido contato com as raças brancas, cultuando um Senhor e Salvador que fora divinamente concebido e nascera de uma virgem E quando os primeiros missionários jesuítas visitaram a China, escreveram em seus relatórios que haviam ficado consternados por encontrarem na religião pagã daquela terra a história de um mestre redentor que nascera de uma virgem por concepção divina. Ao que consta, esse deus havia nascido 3468 anos a.C. Lao-Tse, o famoso deus chinês, também nascera de uma virgem, de pele negra, sendo descrita como bela e maravilhosa como o jaspe.

No Egito, bem antes do advento do cristianismo e muito antes do nascimento dos autores da Bíblia ou de qualquer doutrina concebida como cristã, o povo egípcio já tivera vários mensageiros de Deus nascidos de virgens por Concepção Divina. Hórus, segundo o sabiam todos os antigos egípcios, havia nascido da virgem Isis, sendo sua Concepção e seu nascimento um dos três grandes mistérios ou doutrinas místicas da religião egípcia. Para eles, todos os incidentes ligados à Concepção e ao nascimento de Hórus eram pintados, esculpidos, adorados e cultuados como o são os incidentes da Concepção e do nascimento de Jesus pelos cristãos de hoje. Outro deus egípcio, Ra, nascera de uma virgem. Examinei uma das paredes de um antigo templo na margem do Nilo, onde há um belo quadro esculpido representando o deus Tot — o mensageiro de Deus — dizendo à jovem Rainha Mautmes que daria à luz um Divino Filho de Deus, que seria o rei e Redentor de seu povo.

Ao nos voltarmos para a Pérsia descobrimos que Zoroastro foi o primeiro dos redentores do mundo a ser aceito como nascido em plena inocência, pela concepção de uma virgem. Antigos entalhes e pinturas deste grande mensageiro mostram-no cercado por uma aura de luz que inundava o humilde local de seu nascimento. Ciro, rei da Pérsia, também era tido como nascido de origem divina, e nos registros de seu tempo ele é chamado de Cristo ou Filho ungido de Deus e considerado mensageiro de Deus.

A serpente era usada como símbolo místico nos antigos escritos sagrados de várias escolas de religião, sendo freqüentemente usada como emblema da “Palavra” ou “Logos”. Neste sentido, tornou-se o símbolo do tentador na queda do homem. A serpente também era o emblema do Espírito Santo ou o Poder que impregnava a vida na virgem. Neste sentido era a encarnação do “Logos”. O emblema que aqui mostramos representa a serpente tal como foi esculpida em muitos monumentos antigos. representando o “Logos”. Os ofitas também veneraram o mesmo símbolo como emblema dc Jesus, o Cristo.

O próprio Platão, nascido em Atenas em 429 a.C. era um Divino Filho de Deus nascido de uma virgem pura chamada Perictione, segundo acreditava o povo em geral. Está escrito em antigos registros que o pai de Platão, conhecido pelo nome de Ai-is, havia sido advertido por um sonho espiritual a manter pura e sagrada a pessoa de sua esposa, até que ocorresse a Divina Concepção e o nascimento da criança esperada, cuja concepção seria por meios Divinos.

Apolônio, que ainda vivia e fazia grandes milagres e transmitia grandes ensinamentos em várias terras durante a primeira parte da vida de Jesus, também nascera de mãe virgem, de acordo com as histórias a seu respeito enquanto ele vivia e logo após sua morte. De acordo com essas histórias, em 41 a.C. a mãe de Apolônio fora informada por um deus, em sonho, que daria à luz um grande mensageiro de Deus, que seria conhecido pelo nome de Apolônio.

E por falarmos de famosos mestres e fa.zedores de milagres que deixaram registros indiscutivelmente autênticos de grandes serviços prestados à humanidade, isto nos faz lembrar que Pitágoras., nascido em 570 a.C., aproximadamente, era honrado como Divino não só enquanto estava vivo mas também após sua morte. De acordo com o que dizem os escritos sagrados a seu respeito, sua mãe o concebera através de um espectro, ou o Espírito Santo, que lhe aparecera. Seu pai, ou pai adotivo, também fora informado por uma visão de qie sua mulher iria ter um filho divinamente concebido e de que este filho se tomaria um benfeitor da humanidade.

A história de Esculápio também é bastante interessante. Ele se tornou um grande fazedor de milagres, um mensageiro que trazia uma mensagem Divina para toda a humanidade, e foi considerado um verdadeiro Filho de Deus. Quando os micenianos decidiram investigar o nascimento de Esculápio, consultaram o oráculo de Delfos, sendo informados de que um Deus invisível ou Espírito Santo do reino Divino era seu pai, de que Coronis era sua mãe terrena e de que ele havia nascido em Epidauro. De acordo com a história, quando Coronis passou pelo sagrado evento da Divina Concepção, procurou esconder seu estado de seu pai, porque não acreditava que pudesse fazer os seres terrenos compreenderem a estranha ocorrência. Ela então procurou refúgio em Epidauro, onde a criança nasceu meses mais tarde, em um pobre e humilde estábulo de cabras, na montanha. Um pastor de cabras, cujo nome era Arístenes, ao procurar uma cabra e um cão que haviam se perdido do rebanho, descobriu a criança no estábulo e a teria levado para casa se não tivesse percebido, ao aproximar-se do bebé, que sua cabeça estava cercada por raios brilhantes, o que o fez ver que a criança era um Ser Divino. Sua história a respeito do achado se espalhou pela região, e pessoas de todas as partes afluiram ao estábulo para prestar homenagens ao Filho de Deus, trazendo valiosos presentes que depositavam aos pés da criança. O menino foi honrado como um deus, não só na Fenícia e no Egito, mas, também na Grécia e em Roma.

Também neste lado do grande oceano as tribos da América do Norte e do Sul tinham deuses supostamente nascidos de maneira Divina. Muito antes da chegada de Colombo, os habitantes do antigo México cultuavain um salvador e redentor do mundo que chamavam de Quetzalcoatl, nascido de uma virgem imaculada, segundo as tradições que os santos padres que haviam acompanhado Colombo descobriram nos antigos escritos esculpidos nas paredes dos templos. De acordo com a história, já muito antiga, um mensageiro do céu havia anunciado a sua mãe que ela conceberia um filho por Concepção Divina e que ele seria o salvador do mundo. Um hieróglifo mexicano relatava a história da Divina Concepção e do nascimento deste deus.

Os maias do Yucatan também tinham um deus nascido de mãe virgem, o qual correspondia a Quetzalcoatl e se chamava Zama, considerado como o “único filho do Deus Supremo”.

Na Nicarágua, no Peru, na Guatemala e em outros países, havia outros deuses divinamente concebidos e nascidos de maneira singular.

Acredito ter demonstrado, através destes poucos exemplos escolhidos dentre centenas de outros, todos muito bem confirmados e registrados, que entre os orientais e especialmente os povos cujas religiões tinham uma base mística bem desenvolvida, a idéia da Virgem e do Nascimento Divino não era uma improbabilidade e sim uma possibilidade muito bem aceita.

Muitos críticos da história da concepção de Jesus por uma virgem argumentaram que, se Jesus fora concebido e nascido tal como afirmam os registros cristãos, era estranho que nenhum dos escritores contemporâneos, nenhum discípulo e nem mesmo Jesus tivesse feito qualquer referência a este fato durante Sua vida, e que só passados muitos anos de Sua morte se popularizasse a história de seu nascimento. Esta argumentação só teria sentido e razão se o nascimento Divino fosse um caso único e exclusivo de Jesus, ou seja, se Ele tivesse sido o primeiro e o único dos mensageiros de Deus a ser considerado de origem e nascimento Divinos. Mas se levarmos em conta que fazia parte da crença geral dos povos orientais e também do Egito e da Palestina que todo grande mensageiro, todo Avatar, todo Filho de Deus ordenado por decreto Divino para elevar o nível dos povos de seu tempo, nascia por Concepção Divina, então podemos compreender porque, no caso de Jesus, nem Seus discípulos nem os historiadores consideraram o caso digno de ser ressaltado, de ser tratado com entusiasmo, ou considerado um milagre incomum como o faz a igreja cristã hoje em dia.

Ao examinar os documentos bastante completos sobre os antigos Avatares e Filhos de Deus pré-cristãos que muito influenciaram o desenvolvimento da civilização, vemos nos registros Rosacruzes e em alguns outros escritos fragmentários que os discípulos e seguidores de cada um desses Avatares ou mensageiros gastavam mais tempo e esforço para registrar os ditos, ensinamentos e demonstrações dos Avatares, mostrando pouca preocupação em registrar os acontecimentos ligados a seu nascimento ou transição. Mesmo nos vários casos em que a concepção Divina e o nascimento Divino desses Avatares pré-cristãos de várias terras são registrados, as frases são breves, concisas e, com freqüência, meramente incidentais na história que está sendo contada. Os fatos relativos ao nascimento de uma Virgem são tratados sumariamente, como se fossem de importância secundária e devessem ser simplemente aceitos pelos leitores da vida desses Avatares. Em nenhum caso encontramos evidências de que os discípulos e seguidores dos Avatares considerassem a concepção e o nascimento Divinos como motivo de adoração e culto, como ocorre hoje no caso dos ensinamentos cristãos. Com grande freqüência, as passagens referentes a esses nascimentos miraculosos eram feitas com a mesma brevidade com que hoje em dià comentamos que um grande homem nasceu nesta ou naquela data, na certeza de que todos nascem, de que devem nascér em algum lugai da maneira que se adapta à sua raça e às condições do país onde se deu o acontecimento.

Estou certo de que, uma vez considerados estes dados, aqueles que até agora se sentiram confusos por existirem tão poucas referências históricas nos escritos antigos a respeito da Divina Concepção e nascimento de Jesus, compreenderão que estiveram procurando algo que, do ponto de vista oriental, não representou o fato mais notável ou importante de Sua vida. Não resta dúvida de que, para os orientais, a vida, os ensinamentos e demonstrações práticas dos ensinamentos, por parte dos Avatares, eram os fatores importantes, e de que os incidentes relativos ao nascimento e ao local de sua ocorrência, e ao final da vida, eram pontos a serem considerados apenas pelos associados mais íntimos dos Avatares, sendo registrados simplesmente com o propósito de completar a narrativa.

Outro ponto importante a considerar é que a razão da aceitação geral dos místicos quanto à Divina Concepção encontra-se na crença comum entre os místicos e filósofos orientais de que o poder do pensamento, ou o poder de uma palavra mental ou audível é capaz de impregnar a matéria e levar a matéria sem vida à consciência. Se admitimos a idéia de que a impregnação da matéria desta forma mística é um milagre singular de natureza duvidosa, jamais provada e só aceitável com base na fé, então devemos admitir a idéia de que todos os ensinamentos fundamentais dos místicos do Oriente, e todas as afirmações da literatura mística e oculta, feitas por homens competentes de fama e integridade bem comprovadas, são falsas, infundadas, precárias e indignas de nossa consideração. Se for este o caso, então pouco temos a esperar dos ensinamentos que nos vêm do Oriente, e temos poucos motivos para crer no poder superior e nos ocultos e secretos princípios da energia Divina. Os místicos de todos os tempos afirmaram, e através dos chamados milagres comprovaram para si mesmos, que certos princípios latentes e poderosos podem ser invocados pelo homem e são aplicados por Deus no processo criativo do universo. A própria criação do mundo é considerada por todos os místicos do Oriente como a primeira grande demonstração da potência do Logos, ou o poder da Palavra enviada ao espaço onde não existia vida, resultando na sua imediata impregnação e na manifestação da matéria viva. Os místicos do Oriente acertadamente afirmam que, no começo, toda a matéria não-viva foi impregnada com vida por um processo Divino, sem a aplicação de leis materiais. Nenhum outro conceito é possível ou aceitável para eles. Se a primeira manifestação de vida, por este processo, é aceita, por que haveríamos de contestar demonstrações menores no caso de um ser individual, ou da impregnação de uma única célula de vida?

Os místicos de todos os tempos demonstraram que mesmo a palavra falada, composta de um som vocálico adequadamente pronunciado pelo homem, tem o poder de perturbar o estado da matéria, de fazê-la vibrar ou modificar sua natureza elementar ou sua composição química. Para comprovar este fato, místicos do Oriente — e alguns místicos muito evoluídos do Ocidente — aprenderam a forma de emitir um som ou produzir um som em uma corda de violino ou outro instrumento musical, capaz de causar uma manifestação na matéria. É comum entre os Rosacruzes e místicos de outras escolas, que aprenderam o procedimento e desenvolveram o adequado grau de perfeição quanto a estas coisas, pronunciar sons vocálicos ou, através da concentração mental, dirigir energias invisíveis e poderosas a pontos focais, de modo a causar uma manifestação na matéria viva e não-viva. É objetivo e ambição de milhões de estudantes da lei mística alcançar o grau de perfeição que lhes permita realizar aparentes milagres desta espécie. Para estes místicos, e para a mente racional que compreende as leis envolvidas no processo, pareceria claro que, se o homem é capaz de aplicar estes princípios místicos deste modo, certamente não seria improvável, e muito menos impossível, que a Mente de Deus tivesse dirigido certos poderes na impregnação da matéria e efetivado não só a Divina Concepção que éo assunto deste capítulo, mas, também muitas manifestações semelhantes de natureza incomum.

Por consegurnte, o Rosacruz de compreensão evoluída, ou o místico de alta espiritualidade, aceita pronta e compreensivamente o nascimento de Jesus de uma virgem e nisto não vê qualquer violação da lei espiritual ou natural, nem qualquer exceção aos princípios verdadeiramente científicos.

Os que não conseguem aceitar a Imaculada Conceição ou o Nascimento Divino do Mestre Jesus, provavelmente estão dominados pela compreensão limitativa do pensamento materialista, e não alcançaram ainda o desenvolvimento espiritual que possibilite a compreensão e apreensão das leis mais elevadas.

Só há um ponto em que os Rosacruzes e os místicos orientais discordam da igreja cristã fundamentalista ou estritamente ortodoxa: Trata-se da singularidade da concepção e do nascimento do Mestre Jesus. As doutrinas cristãs ensinam que Jesus foi o único filho de Deus, o único caso da Palavra feita carne e pela qual Deus enviou à Terra um Filho divino para redimir o mundo. Os Rosacruzes entendem que Jesus não foi o primeiro e único, mas o último e maior de todos os mensageiros de Deus concebidos desta forma e nascidos na Terra.

Isto nos leva a outro ponto, a ser considerado antes de apresentannos a antiga e mística história do nascimento de Jesus. Em um dos capítulos anteriores, declarei que os Essénios, os Nazarenos e os místicos da Palestina em geral esperavam a chegada de um grande Mestre que seria a encarnação de um dos grandes líderes anteriores. Também afirmei que era uma crença comum entre os judeus que o Messias que esperavam seria, igualmente, a encarnação de um de seus líderes anteriores. Nas declarações em questão, o leitor pode perceber a crença, por parte do povo do Oriente, no fato da reencarnação, uma crença comum em todo o mundo oriental e que hoje representa um princípio positivo no pensamento filosófico e religioso de mais de três quartos da população da Terra, o qual só é questionado por uma parte dos habitantes do mundo ocidental. Os orientais também sabiam, através de experiências anteriores, que os grandes Avatares e mensageiros de Deus, enviados de tempos a tempos conforme as necessidades da evolução das raças, eram a reencarnação de grandes almas que haviam vivido na Terra e que haviam alcançado, em cada encarnação, um grau cada vez mais elevado de expressão espiritual e maestria.

Saber quando cada um desses mensageiros apareceria em sua última e final encarnação era impossível, mas como todas as encarnações eram progressivas, e como cada novo mensageiro era maior e mais elevado que o precedente, os Essênios, os Nazarenos e até os Judeus da Palestina esperavam que o mensageiro que lhes seria enviado seria maior que qualquer outro que o precedera, e que provavelmente seria a reencarnação de um dos maiores que os haviam servido no passado. Era natural para os judeus sentir que o mensageiro ou Messias seria a reencarnação de um de seus salvadores precedentes, possivelmente Moisés, e certamente alguém da Casa de Davi. Por outro lado, os Essênios e outros da raça ariana acreditavam (baseando sua crença numa compreensão mais profunda das leis místicas que a dos judeus) que o novo grande Mestre e redentor do mundo seria de raça ariana, a reencarnação de um dos grandes Mestres que haviam servido o mundo em outras terras e que não estaria limitado às tribos de Israel.

Por isto os Essênios da Palestina, do Egito e de outros locais, estavam certo de que o próximo grande Mestre seria de sua própria raça e viria através de membros de sua própria organização, porque os Essênios representavam, na época, o grupo mais evoluído e espiritualmente treinado da Terra.

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